A canção continua a mesma
Crônica #16 publicada no Diário de Santa Maria 26.10/2012 | N° 3289
Eu ainda lembro com nitidez daquela tarde cinzenta de agosto de 1985. Havia em Santa Maria uma pequena sala de cinema na Rua Alberto Pasqualini. Telão 52, esse era o nome do local. Por lá eram exibidos filmes de rock. O que estava em cartaz naquela semana era Rock é Rock, mesmo, título em português de The Song Remains The Same, filme do Led Zeppelin lançado em 1976. Para que a garotada mais nova tenha uma ideia (sempre vale a pena lembrar), vivíamos uma época pré-jurássica em que MTV, Google, Wikipedia e YouTube ainda não existiam. Por isso, um garoto de 14 anos como eu, sem nenhum amigo especialista no assunto, tinha pouco conhecimento do que encontraria por lá.
Na verdade, havia lido uma nota em uma publicação (Rock Passion) com um breve histórico da banda. Duas coisas me levaram até lá: eu ficara intrigado com a sonoridade do nome Led Zeppelin. A segunda foi um cartaz da extinta revista Somtrês, que trazia o vocalista (com uma pandeirola) e o guitarrista do Led (com uma guitarra de dois braços), onde era anunciado: “Telão 52 apresenta: Led Zeppelin – Rock é Rock, mesmo, sessões às 14h e às 19h”. Lá estava eu na sessão das 14h. Hoje, sabemos que esse filme tem mais defeitos do que qualidades, no entanto, eis minha porta de entrada para o som da banda formada por Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham. Foi nessa tarde de inverno santa-mariense que voltei para casa como um novo fã do quarteto inglês. Em dois anos, teria toda a discografia deles em LP. Sempre que me lembro de meu início como escutador de som, é o Led que me surge na memória.
É por isso que ter assistido ao show de Robert Plant na última segunda-feira no Gigantinho, em Porto Alegre, teve um simbolismo especial. Foi emocionante vê-lo fechar o tour no país com um show que insurge sua carreira solo, mas também resgata sucessos do Led Zeppelin. E, como bônus, ainda eu pude assistir à primeira exibição de Celebration Day, novo filme/concerto do Led em um cinema da Capital. Foi como o fechamento de ciclo.
No show de Plant, víamos um público que unia várias gerações. Rock virou programa de família. No cinema, muitas vezes tive a sensação de que fazia parte do público que esteve naquela noite de dezembro de 2007, no O2 Arena, em Londres. Jason Bonham, filho do baterista original, deu conta do recado. O cinema produz essa mágica. Para mim, o Led Zeppelin sempre será uma banda “máquina do tempo”. Volto àqueles dias em que descobria o rock e rejuvenesço. É a prova de escutar um LP é uma atividade muito mais complexa do que imaginamos. E quando adentramos no território da emoção, o preto-e-branco vira a chave para tecnicolor. Por mais que esteja conectado com a música de nosso tempo, ainda são canções como Going to California, Friends, Since I’ve Been Loving You, Ramble On e No Quarter que balançam o coreto da minha vida.
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