Drive-In
Ele sempre foi fascinado por luzes
de neon & pelo pisca-pisca dos outdoors. Não sabe de onde vem essa fissura. Só
pode dizer, que sob esse verniz, dá pra sacar o mundo com mais satisfação. Quando vê alguma cena inundada de escarlate & pelas cores & confetes da luminosidade artificial, aprecia a sensação de ser docemente enganado. Da sua
janela-automóvel, lá fica ele vendo a cidade-tela-de-cinema borbulhando como champanhe
barato. Uma estrela fogo-de-artifício antecipa o réveillon em outubro. Já o
neon fica por conta da imaginação & da memória, componentes que ajudam a
remontar uma realidade paralela que ainda vive nas páginas dos livros que ele insiste
em reler. “Neon, neon, neon. Por que será que as cidades abandonaram teu
lusco-fusco?”, ele se pergunta. O velho
mundo insiste em morrer enquanto ele faz respiração boca-a-boca no passado
distante. Nem que seja na vitrola, ele sonha com bailes de formatura embalados pela orquestra de Glenn Miller, num tempo onde os DJs perpetuam a mediocridade de uma música sem expressão. Dia desses passou por uma movimentada avenida onde um Drive-In deu lugar a uma Montanha-russa. A moldura da tela parece um dinossauro de plástico perdendo
as cores frente ao ronco de um cometa Harley-Davidson.
Lembranças desbotadas como um rabo-de-peixe ainda valem um tíquete furado.
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