Leviandade
Crônica #7 publicada no Diário de Santa Maria 31/08/2012 | N° 3235
Foi totalmente ao acaso que assisti aquela cena. Voltava do mercado com minha sacola de compras rumo à parada de ônibus quando me deparei com um casal discutindo em uma esquina qualquer. E o clima estava quente. Aquele homem olhava para a garota com apreensão. Já ela sugeria uma imagem de decepção. Em certo momento, a garota, em dedo em riste, proclamou a frase: “Tu és um leviano!”. Logo depois, com lágrimas nos olhos partiu em disparate atravessando a rua sem a mínima precaução. Biiiiiiiiiiip! Quase foi atropelada. Ele ficou parado como uma estátua da Avenida Rio Branco. Olhando para o sujeito de canto de olho, me peguei pensando na frase que ouvi. A palavra – leviano - me remeteu a uma imagem de criança: Gostava de soltar barquinho de papel pelas sarjetas próximas ao meio fio da rua em que morava - isso quando tinha meus sete ou oito anos. Nada poderia ser mais leviana do que aquela imagem de um barquinho navegando leve pelo rio imaginário promovido pela falta de saneamento básico. “Leve / Como leve pluma muito leve, leve, pousa”, outra leviana lembrança promovida pelo poema de João Apolinário, na voz de Ney Matogrosso à frente dos Secos & Molhados me deixou cantando baixinho.
Foi totalmente ao acaso que assisti aquela cena. Voltava do mercado com minha sacola de compras rumo à parada de ônibus quando me deparei com um casal discutindo em uma esquina qualquer. E o clima estava quente. Aquele homem olhava para a garota com apreensão. Já ela sugeria uma imagem de decepção. Em certo momento, a garota, em dedo em riste, proclamou a frase: “Tu és um leviano!”. Logo depois, com lágrimas nos olhos partiu em disparate atravessando a rua sem a mínima precaução. Biiiiiiiiiiip! Quase foi atropelada. Ele ficou parado como uma estátua da Avenida Rio Branco. Olhando para o sujeito de canto de olho, me peguei pensando na frase que ouvi. A palavra – leviano - me remeteu a uma imagem de criança: Gostava de soltar barquinho de papel pelas sarjetas próximas ao meio fio da rua em que morava - isso quando tinha meus sete ou oito anos. Nada poderia ser mais leviana do que aquela imagem de um barquinho navegando leve pelo rio imaginário promovido pela falta de saneamento básico. “Leve / Como leve pluma muito leve, leve, pousa”, outra leviana lembrança promovida pelo poema de João Apolinário, na voz de Ney Matogrosso à frente dos Secos & Molhados me deixou cantando baixinho.
Chegando em casa, de cara consultei meus alfarrábios. Foi quando
então a imagem poética ainda seria ampliada. É claro que não desconhecia o real
significado da palavra, na verdade apenas estava em busca de outros
desdobramentos. Segundo o dicionário Houais, “leviano” pode ser utilizado como
adjetivo. Uma pessoa leviana é alguém que julga ou procede irrefletidamente;
esse sujeito não passaria de um inconsiderado, imprudente, um cara sem
seriedade, um precipitado. De característica ou de procedimento inconsistente.
E assim, esse homem (ou mulher) teria o carimbo da leviandade. No brasileirismo
antigo, usamos leviano para designar algo leve (como meu barquinho, pensei). A
palavra também pode ser utilizada como substantivo: Inconsequente, imprudente,
insensato, precipitado. Como sinônimo, podemos dizer que o ser leviano é alguém
aéreo.
Fiquei pensando em diferentes faces (e fases) da leviandade. Por
exemplo, esse troço de “proceder irrefletidamente” é a minha cara. Sou
impulsivo pra caramba. E impulsivamente posso dizer que assim como grande parte
das coisas na vida, e no caso desse episódio do casal que presenciei, sem
dúvida há dois lados na história. Eu apenas peguei o trem atrasado e dei uma
conferida em alguns “suspeitos” segundos da trama. E da janela do vagão pude
constatar que nenhum dos dois estava feliz com o rumo dos acontecimentos. Seria
um ato de leviandade tirar alguma conclusão precisa daquela discussão. No
entanto, posso profetizar que aquele romance parece ter ido a pique. Igual ao
barquinho de papel da minha infância.
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