48 segundos
Onde posso encontrar uma bolsa igual a essa? |
Crônica #1 publicada no Diário de Santa Maria (20/07/2012 | N° 3199)
Eu sou uma criatura estranha. Além
de não ser abençoado com uma grande memória, sou cheio de manias e costumo
acreditar na repetição e na sistematização da minha rotina. Isso me conforta. Dessa
forma consigo executar várias atividades diárias comuns a cada um de nós, no
entanto um agente complicador foi deflagrado há duas semanas. Aposentei minha
bolsa de lona por um simples motivo: ela se esfarrapou e ficou impraticável o
seu uso. Ao constatar o estado deplorável dela, Mamãe simplesmente a confiscou.
Como consequência minha vida virou
uma bagunça. Em suma – algumas sistematizações e repetições foram pro saco. Por
exemplo, perdi meu molho de chaves e minha carteira de identidade. Resolvi não
carregar mais nada comigo enquanto não comprar um modelo similar a minha
extinta bag. E o pior é que não estou encontrando. A verdade é que estou
angustiado com essa procura.
Na última quarta-feira de manhã,
fui até um chaveiro na Avenida Rio Branco e providenciei uma cópia de uma de
minhas chaves. Fiquei impressionado com a rapidez do profissional. Ele me
entregou a cópia em menos de um minuto. Quarenta e oito segundos, segundo o
chaveiro. Fiquei pensando, se todas as aflições que nos assolam pudessem ser
dissipadas em apenas 48 segundos. Deus... Quem sabe nossa passagem pelo Planeta
Terra fosse menos dolorosa. A minha bolsa, por exemplo, já se passaram duas
semanas e lá vai pedrada e nada, nada de encontrar um modelo que atenda minhas
necessidades. Fiquei refletindo nesse lance dos quarenta e oito segundos.
Quantas coisas na vida poderiam ser solucionadas nessa fração de minuto? O que
podemos ganhar e o que podemos perder? Na mesma manhã, logo depois encontrei um
amigo no Calçadão e comentei com ele essa minha constatação, de como resolvi um
problema em menos de um minuto. Aí o sujeito me alertou:
“E vai que não funciona?”
Mas funcionou. Perfeitamente.
Inclusive, posso afirmar ao nobre leitor, que nunca assestei uma chave em uma
fechadura com tamanha convicção.
No entanto, a paranóia da segundagem continuou noite
adentro. Levei muito mais do que quarenta e oito segundos pra decidir qual LP
iria colocar no toca-discos. Demorei um bom tempo pra decidir o que iria
descongelar para acabar com minha fome. O chuveiro levou vários minutos para
ser ajustado na temperatura exata para o banho. Ou seja, nada se compara a
eficiência do chaveiro da Rio Branco. Ainda mais quando demorei algumas horas
fritando na cama me debatendo contra a insônia. Deve ser a maldição dos
quarenta e oito segundos.
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