Uma música para salvar o dia
Divulgação Virgin |
Tem dias que você se pergunta logo que tira os pés
da cama: “por que levantei de lá?” Será
que não devia ter ficado soterrado entre os lençóis? Igual a um sobrevivente de
um terremoto à espera da equipe de resgate. Resignado como um homem que observa
a areia escorrendo pela ampulheta, tal como Ivan Illicht, sacando de leve
cada segundo antes da última queda. E você segue acordando no piloto
automático, e quando calça o sapato descobre aquela pedrinha chata dentro dele.
Putz! E aí, como num passe de mágica, ainda com a escova de dente entre a mão e
a boca, liga o rádio e então... Eis que uma música deixa o seu dia ainda pior!
Boom! E essa canção ainda lhe diz. “Seu filho-da-puta! Volta pra cama!”. Jota
Quest o caralho!
Que nada. Você desliga a porra
do rádio e resolve ir até a loja. Refugia-se nos seus fones de ouvido, tasca no
repeat “Mississipi” de Dylan em três versões diferentes e vai pra parada do ônibus. Meia hora depois já está na loja. Começa a manhã colando umas capas de
LPs e organizando as prateleiras. Retoca um cantinho da parte interna da capa de “Machine Head” do Purple, apaga
com a borracha uma dedicatória na capa de “The Wall”, do Floyd, e assim, aos poucos, seu dia
vai entrando nos trinques. Próximo sábado tem um novo encontro. Entre uma
fuçada e outra no acervo, se depara com a trilha sonora de “Homeboy”, filme de
1989 que trás Mickey Rourke com um boxeador de quinta categoria. A seleção contêm
um bocado de canções instrumentos de Eric Clapton e uma blueseiras danadas de
boa – Magic Slim, Buddy Guy; uns popzinhos – J.B. Hutto & The New Hawks e
The Breaks, no entanto, a faixa que abre o lado B é daquele naipe de sons que
não tem outra. É por isso que a música pode salvar o seu dia...
Você nem 'tá falando da letra de I Want To Love You Baby, um antigo sonzinho da dupla Peggy Scott e Jo Jo
Benson, você percebe que dá pra sentir uma energia contagiante pulsando nessa
música. E o groove se infiltra no seu sangue e o ajuda de alguma forma. É
quando surge de novo àquela voz interior e lhe assopra uma última dica:“Bola pra frente, meu velho”. Cada dia nos apresenta uma nova cor, um novo amor, uma nova história... Tá certo, afinal, você está na boa com suas atitudes e
convicções, que permanecem intactas como imponentes estátuas de bronze. E tem
outra, apesar de todas as aflições, erros e acertos, dá pra concluir que o
segredo de tudo é estar em paz consigo. Afinal, “é uma vida ótima, essa vida de
música!”, não acham? Tirou a pedra do sapato, continuou dando um “shape” nos velhos bolachões e logo depois foi tomar
um mate com Dona Helena. Grato a Jo Jo & Peggy.
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