A bela da tarde

Aquele homem estava ali desde o meio dia e 1/2. Quinze minutos de espera. Uma eternidade para um sujeito ansioso como ele. A garçonete estava parada de braços cruzados. Ele definitivamente não sabia o que fazer com os dele. A vida é uma eterna espera, mas ele nunca se acostumará. Às duas pegaria seu trem para a capital. Foi em um vestido verde musgo que ela apontou emergindo o lance de escadas. Uma lady que permitia um diálogo natural entre a roupa e sua pele branca. Por um segundo ele não a reconheceu. Ela parecia mais mulher e menos menina. Ele estava sentado em uma mesa com um caderno de anotações nas mãos e sua impaciência já havia virado metade de uma chícara de chá. Ela passou bem ao seu lado sem percebê-lo. Ele Ficou imóvel. Pode ouvir o barulho dos sapatos dela ecoando até o outro lado do salão. Rapidamente ela retorna, o procura com o olhar perdido e no segundo seguinte sorri ao encontrar-lhe esperando-a. Naquele vestido verde musgo, a beleza daquela mulher ficava as claras. Não havia nenhum tipo de engodo naquele corpo. Uma rara elegância que não se via nas esquinas. Um tipo de auto-confiança que lhe contagiava. Se houvesse alguma música tocando, o quadro poderia ser emoldurado ao som de Nearness Of You. Naquele vestido verde musgo, Edward Hooper encontraria um tema inédito. Ela se aproxima, coloca a mão no ombro dele, lhe dá um beijo no rosto e diz: “Porque não me chamou ao ver-me passar?”. Ele respondeu: “Não poderia interromper o que não deve ser interrompido!”. Ela apenas sorri e fica olhando-o por alguns instantes. Ele pucha a cadeira para que ela se sente ao seu lado. Logo depois faz um sinal para a garçonete e a moça de uniforme os avisa que em breve irá atendê-los. Ele perderia seu trem naquela tarde.



Santiago, 16 de outubro de 1951

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