Contos, causos, histórias de Ronaldo Lippold

Capa Larrisa Mendes. Iustração de Vitor Cesar. Foto do autor: Pablito Diego
“A Adaga Espanhola” é uma das atrações da Feira do Livro de Santa Maria, que vai até 6 de setembro.

| por Juarez Fonseca |

Eu já tinha lido seus quatro livros anteriores, e gostei de todos. Mas acho que com o recém-lançado “A Adaga Espanhola” (Editora Memorabília), o santa-mariense Ronaldo Lippold se supera. Formado em Administração pela UFSM, ele tem marcas próprias – embora meu ilustre amigo José Beltrame Cusco veja em algumas de suas narrativas “a atmosfera dos contos de Sérgio Faraco”. Não é pouca coisa, pois Faraco se trata de um dos maiores contistas brasileiros.

Neste novo volume (uma das atrações da Feira do Livro de Santa Maria, que segue até 6 de setembro), Lippold viaja com erudição e bom-humor (uma de suas marcas) pelo Rio Grande de ontem e de hoje. São 14 contos/causos protagonizados por Emiliano, Nicanor e Chico Louco que, sempre que possível, cultivam mais de 30 anos de amizade com encontros para pescar no rio Camaquã campeiro – pescar, beber, prosear, chimarrear e, às vezes, viver aventuras inesperadas.

Emiliano (Fagundes Taborda do Nascimento) era dono de uma venda de beira de estrada, não muito bem abastecida. Talvez para rimar, Nicanor era alambrador, já tinha cercado muitos campos. E Chico Louco era chibeiro, às vezes levava para o acampamento da pescaria alguns queijos e salames contrabandeados do Uruguai, saboreados ao redor do fogo de chão enquanto as carnes assavam, entre muitas risadas e goles do vinho trazido por Emiliano.

Chico Louco contava que seu trisavô morrera na Batalha do Camaquã, “violenta peleia entre brasileiros e argentinos durante a Guerra Cisplatina” ocorrida em 1827 e perdida pelas forças brasileiras. Esse será o tema do segundo capítulo, ops, conto/causo do livro, onde entram mais antepassados de Chico, como Florêncio Bacamarte e sua avó, a benzedeira Tereza das Rezas. Entra também um certo McBride, mercenário irlandês, também assassino, com muitas mortes no lombo.

A propósito, a violência é parte inerente àqueles tempos, seja nas guerras, seja no cotidiano, como quando Emiliano abate com um tiro o assassino de sua amada Zenaide, mesmo que ela o tivesse traído com o morto. Ou o bandido, “um gringo aparvalhado com cabelos avermelhados”, que se vinga em um menino negro com problema mental porque o pai dele o lograra “num carteado ano passado”. E outras histórias de semelhante teor.

Assim segue a narrativa de Lippold, sempre agregando personagens incomuns, sempre surpreendente, agarrando o leitor que não consegue se desprender do livro e ao fim quer mais. Títulos dos contos/causos/histórias: A Batalha do Camaquã, A Guerra da Cisplatina, A Enchente de 1941, Amor de Mãe, Vendeta, Um Menino Chamado Zico, Ás de Ouro, O Anel, A Adaga Espanhola, Herança Maldita, Os Ciganos, A Volta dos Ciganos, Viagem Alucinante e O Velório.

Ontem, Lippold me disse: “Eu não levava muita fé no projeto. O Márcio Grings que insistiu que era bom e que deveria lançar”. Sábio e antenado Grings, o editor desta ótima Memorabília, que tem lançado muitos livros diferenciados – como os também recentes e muito bons “Histórias Escritas com Giz – Memórias de um professor”, de Vitor Biasoli, e “Jazz em Palmeira”, de Gérson Werlang. Confira em https://memorabiliastore.com.br/ 




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