Review: A Complete Unknown
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| Divulgação | |
“A Complete Unknown”, a nova cinebiografia de Bob Dylan, entrou em cartaz no Brasil no dia 27 de fevereiro. O filme, indicado a 8 Oscars – Melhor Filme/ Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Figurino e Melhor Som, tem o desafio de contar a história de uma das personalidades mais instigantes do nosso tempo.
Timotée Chalamet, 29 anos, dá vida ao jovem Bob, exatamente dos 19 aos 24 anos, de janeiro de 1961 até julho de 1965. Acredito que o primeiro acerto do filme esteja justamente na escolha do protagonista, Chalamet convence como o Bob desses dias. E essa é uma das boas sacadas do filme baseado no livro “Dylan Goes Electric” (2015), de Elijah Wald — a trama nos dá sua versão de como esse completo desconhecido se transforma no menino dourado do folk, e, logo depois, se torna o responsável por eletrifica-lo e contaminá-lo com o rock and roll. Para soar fidedigno a sua difícil missão, Chalamet aprendeu a tocar violão, harmônica, cantou todas as músicas que você ouve no filme, mimetiza os trejeitos e maneirismos de Bob. Segundo o ator relatou em entrevistas, foram cerca de quatro anos estudando biografias, músicas, vídeos e filmes, uma profunda imersão que nos leva até a impressionante interpretação de “Song to Woody”, provavelmente seu melhor momento como intérprete no longa.
Um resumo e 10 Motivos para ver "A Complete Unknown".
“A Complete Unknown” começa em 24 de janeiro de 1961, quando Bob Dylan chega em Nova York com uma mochila, alguns trocados no bolso, seu violão e um futuro incerto. O jovem artista primeiramente visita seu ídolo, Woody Guthrie. A lenda do folk que tinha no seu violão escrito "This Machine Kill Fascists" havia sido diagnosticado com a Doença de Huntington, uma enfermidade degenerativa e incurável. Desse modo, precisou ser internado num hospital, e foi assim, se comunicando por gestos e confinado a uma cama, que Bob o encontrou. Essa devoção por Woody permeia o filme, assim como a amizade com Johnny Cash (Boyd Holbrook) e o respeito do cantor pela velha guarda. Entretanto, o roteiro apresenta imprecisões históricas, licenças poéticas e sacadas que realinham alguns episódios reais. Como diretor/corroteirista James Mangold (e seu parceiro Jay Cocks) pode nem sempre permanecer fiel aos fatos literais, mas ele acerta em cheio no arco emocional e artístico da vida do biografado, o que no somatório torna esses deslizes irrelevantes no contexto de um filme baseado em fatos reais.
Um exemplo de como o longa contextualiza e repagina eventos está no conturbado show de Dylan em julho de 1965 (minutos finais do filme), durante o Festival de Newport, quando Bob, pela primeira vez, apresenta seu novo show com uma banda de rock/ blues. Aclamado no ano anterior, dessa vez ele é vaiado (o que realmente aconteceu), chamado de Judas por alguém da plateia. Ao final de “It Takes a Lot o Laugh, It Takes a Train to Cry” ele se volta para banda e fala “play it loud” antes de tocar “Like A Rolling Stone”. Sabe-se que o ocorrido na verdade se deu 10 meses depois no Free Trade Hall, em Manchester, e não em Newport. Veja “No Direction Home” (2005), documentário de Martin Scorsese e lá você observará os fatos como realmente eles se deram. Refletindo sobre o espaço de tempo desenrolado na história de "A Complete Unknown", Mangold usa esse episódio em Newport para romancear o estranhamento do público com sua entrada no mundo do rock and roll.
Há química entre Timotée Chalamet e Monica Barbaro (como Joan Baez), impecáveis como intérpretes das canções e responsáveis por representar o casal dourado do folk, uma união e parceria consagrada a pleno apenas no palco (anos depois Joan escreveria "Diamonds and Rust", uma canção sobre sua conturbada relação com seu parceiro musical). Ouça "Silver Dagger" na voz de Monica e comprove que a atriz, mesmo com um timbre de voz diferente ao soprano inimitável de Baez, revela seu talento como cantora. Outro destaque é Edward Norton (Pete Seeger), que toca banjo e canta, simplesmente incrível na pele de um dos maiores nomes do folk de todos os tempos. É possível imaginar o verdadeiro Pete Seeger nessa atuaçao.
Já Elle Fanning (Sylvie Russo), materializa toda a sofrência de Suze Rotolo (foi o próprio Dylan que pediu que o nome dela fosse trocado), a primeira namorada do músico em Nova York, célebre por figurar abraçada ao músico na capa de "The Frewheelin' Bob Dylan" (1963). O triângulo amoroso entre Bob, Joan e Sylvie permeia todo o filme, expondo a personalidade oblíqua do músico. Apesar de ficcionar e resumir o que realmente se deu entre Bob, Joan e Suze (leia os livros e você encontrará a verdade), a narrativa amplia o quanto essas mulheres foram importantes para Bob, artista e homem, ao edificar nele uma consciência política, assim como o próprio cenário da época o auxiliou a aprofundar essas visões. A tensão entre Estados Unidos e União Soviética, a crise dos Misseis em Cuba, o assassinato do presidente Kennedy e os movimentos pela igualdade racial, acabam por deflagrar canções como "Blowin' in the Wind", "Masters of War" e "A Hard Rains A-Gonna Fall", até hoje consideradas como retratos poéticos consistentes dessa primeira metade dos anos 1960, com recados ainda válidos para os dias de hoje.
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| Divulgaçao | |
Muito ansiosa pra ver.
ResponderExcluiro filme é lindo
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