50 anos de "Ooh La La", 4º e último álbum de estúdio do Faces
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| Divulgação. Arte: Jim Ladwig | |
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The Faces: Ronnie Lane, Ian McLagan, Rod Stewart, Ronnie Wood e Kenny Jones. |
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Contracapa do LP. Arte: Jim Ladwig |
SILICONE GROWN
Música de Rod Stewart e Ronnie Wood, "Silicone Grown" tem uma letra sacana a lá Faces. O riff de Wood e voz de Rod são rolos compressores que nos atropelam logo de início. A condução da guitarra é poderosa, o piano de Ian McLagan salta pelas beiradas e Kenny Jones toca como se estivesse lutando por um prato de comida (ou por um pint de cerveja). O clima de espontaneidade e improviso nos toma de assalto o tempo todo. Algo parece desorganizado, mas há atrevimento de sobra, é como se eles mal tivesse ensaiado e resolvessem gravar de primeiras, in first take! Como de fato deve ter sido. É uma canção Faces signature.
CINDY INCODENTALLY
"Cindy Incidentally" tem a melodia descaradamente roubada de "I Don't Believe You" de Bob Dylan. Ironicamente é uma das canções mais lembradas do álbum. Rod Stewart sempre buscou inspiração nas composições de Dylan. Anos depois, "Forever Young", de “Out of Order” (1988), foi também inspirada num clássico homônimo de Bob Dylan, gravado em 1974. Há semelhanças indissociáveis, tanto que Dylan ganhou uma legítima coautoria, que já poderia ter acontecido em "Cindy Incidentally", creditada apenas para Ian McLagan, Rod Stewart e Ronnie Wood. Apesar dessa 'coincidência', o disco começa muito bem, obrigado! Como diria Pablo Picasso: os medíocres copiam, os gênios roubam.
FLAGS AND BANNERS
Escrita por Ronnie Lane e Rod Stewart, Lane faz sua estreia como cantor solo no álbum. "Flags And Banners" é curta e eficiente, passa seu recado em apenas dois minutos. Meio The Byrds fase country rock, culpa do banjo. É uma música com o DNA do baixista do Faces, que após sua saída da banda, faria outras composições ao estilo folk rock tão boas quanto essa.
MY FAULT
"My Fault" é feita da sujeira clássica do Faces e contém os versos que resumem praticamente toda a carreira do Faces: "Se eu tiver que cair de cabeça todas as noites da semana/ Vai ser minha culpa (e de mais ninguém). McLagan, Stewart e Wood a escreveram. Rod e Woody cantam grande parte dela em duo. A guitarra de Ronnie é o motor de propulsão que faz tudo pulsar. Essa bagagem de ser o único guitarrista na banda, de segurar todas as pontas, seria a melhor escola para prepará-lo como novo integrante dos Stones, tornando-se o comparsa perfeito para Keith Richards, seu eterno parceiro no crime.
BORSTAL BOYS
O lado A acaba com mais uma canção de McLagan, Stewart e Wood, mais uma canção no estilo bagunçado e tudo ao mesmo tempo agora do Faces. A buzina pedindo passagem soa como uma aviso: saia da frente, você pode ser atropelado! "Borstal Boys" soa garageira, suja, com Rod dando a sensação que gagueja no refrão, esquecendo as palavras. A química do grupo fervilha, uma fraude do rock que todos nós adoramos movida pela autêntica crueza e vibração do Faces.
Lado B
FLY IN THE OINTMENT
O tema instrumental pode soar como uma estranho tapa buracos abrindo o Lado B. Temos aqui a única participação especial do disco, a do percussionista ganês Neemoi Acquaye. Mais uma vez a ambiência de jam e liberdade musical, de improviso e de zoeira nos invade como um sentimento da mais pura diversão. Ian McLagan solta chispas nas teclas, e há um toque blues de Ronnie Wood, primeiro no slide, mais agressivo, e depois num outro clima nos segundos finais, já no fade out, dando a impressão que eles poderiam seguir nesse tranco por horas, com um monte de peças fora do lugar, cada um seguindo para um lugar diferente. É o único momento de baixa no álbum.
IF I'M ON THE LATE SIDE
Composta por Lane e Stewart, a balada "If I'm On the Late Side" oferece um delicioso refresco depois do início barulhento no Lado B. Vende ares de uma demo, meio incompleta e perfeita com todas as suas imperfeições. Violão e guitarra na manhã, o baixo de Ronnie é o instrumento solista, sombreando a voz de Rod, o teclado faz toda a cama de fundo, e a bateria apenas espalha a poeira, tiquetaqueando como um relógio suíço. e sem sentar a mão. Uma delícia, se alguém disser o contrário, principalmente se for um crítico de rock: interne-o!
GLAD AND SORRY
Cantada por Ronnie Lane, Ronnie Wood e Ian McLagan, anos depois "Glad and Sorry" apareceria na trilha-sonora do ótimo "Profissão de Risco"(2001), filme com Johhny Depp. O piano de Ian é o que puxa o som. É certamente um dos melhores momentos do álbum e daquilo que o Faces poderia nos oferecer de melhor, além de ser um demonstração de que mesmo sem Rod Stewart o grupo ainda conseguia se virar muito bem, obrigado! Ronnie Wood arrasa no solo de slide.
JUST ANOTHER HONKY
Gosto do falso início, da guitarra surgindo como se fossemos levar um tapa nos peitos. Mas é apenas uma carícia. O destaque aqui novamente é o piano de Ian McLagan, autor de um dos maiores riffs de piano no meu imaginário. Ainda há luz de sobra na interpretação de Rod cantando uma música escrita por Lane, e um tema que cairia muito bem no seu repertório solo. Coloque-a para tocar no meu funeral, é uma das minhas baladas preferidas não só de "Ooh La La" ou do Faces, mas de todo o rock feito nos anos 1970.
OOH LA LA
A voz principal é de Ronnie Wood, algo incomum na discografia da banda. Antes dele, Stewart e Lane gravaram versões cantando a música, mas não ficaram satisfeitos com o resultado. Glyn Johns então sugeriu que Wood tentasse... e deu liga. Ela é acústica, leve, com uma letra que nos faz pensar, escrita por Ronnie Lane, que nos descreve um diálogo entre um avô e o neto:
"Eu ria do que o coitado do meu avô dizia/ Eu achava que ele era um homem amargo quando falava das mulheres/ Elas te prendem/ Te usam antes que você perceba/ Porque o amor é cego e você bonzinho demais/ Não deixe transparecer/ Queria que eu soubesse o que sei agora quando eu era mais jovem.
Quero os lábios/ Mas só consigo o rosto/ Me pergunto onde estou/ Se quero mais ela logo adormece/ E me deixa na companhia das estrelas/ Meu pobre neto/ Não há nada que eu possa dizer/ Feito eu, você vai ter que aprender da forma mais difícil/ Ooh la la!"
Em "Daisy Jones & The Six", nova série da Amazon Prime, baseada no livro de Taylor Jenkins Reid, aos 39 minutos do quarto episódio, durante uma festa na casa de Billy (Sam Claflin) e Camila (Camila Morrone), os presentes são surpreendidos por um apagão. E sem luz, no escuro iluminado por velas, Karen (Suki Waterhouse) senta ao piano e não tira da cartola uma música qualquer, é "Ooh La La" do Faces que ela toca e começa a cantar. Assim, promove um momento catártico nessa reunião de amigos em Laurel Canyon, pois logo Eddie (Josh Whitehouse) pega o violão e se junta a ela, com Daisy, depois Billy, cantando o clássico do Faces e todos os presentes se juntando a eles no refrão. "Ooh La La" ainda está no final do filme "Três é demais" (1998) de Wes Anderson, e também na comédia "Totalmente sem rumo" (2004), entre outros filmes. A Mitsubishi usou "Ooh La La" em comerciais para seu Galant 2001. "Ooh La La" é uma das músicas mais conhecidas do grupo, e indissociável da figura de Ronnie Wood, e se tornou um dos maiores clássicos do rock em todos os tempos. É pouco ou quer mais?
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E aí alguém um dia te contou que "Ooh La La", o álbum, não é grande coisa. Internem o maldito. Clássico para dormir abraçado todas as noites. É O QUE EU FAÇO!
Relembro aqui a cena final de "Três é demais".
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