POA Jazz Festival – 7º Edição – dias 24, 25 e 26 de Março (2023)

| Mike del Ferro Trio. Foto: André Feltes |
| Por Lúcio Brancato Fotos: André Feltes |

Durante os dias 24, 25 e 26 de março, Porto Alegre recebeu uma maratona musical que já é tradição na cidade desde 2014, o POA Jazz Festival, evento realizado no Centro de Eventos Barra Shopping Sul. Com o tema “As Muitas Faces do Jazz”, as três noites de música entregaram exatamente isso: um apanhado contemporâneo e diverso de um gênero que tem na sua essência a capacidade de se renovar, agregar e difundir novas propostas musicais. 

Acompanho de perto desde sua primeira edição como jornalista, espectador e até como apresentador — tive a honra de ser o host do festival em 2019 — e posso afirmar que ao longo dos anos o festival se consolidou com um dos principais na América Latina, sempre apresentando ao público música de alta qualidade e trazendo atrações nada óbvias em relação a outros eventos do tipo. É exatamente isso que considero a principal marca e o que torna tão atrativo para quem gosta de ter acesso ao presente, passado e o futuro do jazz: a curadoria. 

Cande Buasso. Foto: André Feltes 

Por mais que pelo palco já tenham desfilado nomes nacionais e internacionais mais conhecidos e consagrados como, Hermeto Pascoal, Ralph Towner, Paquito D’Rivera e João Donato, o que me atrai é fato de poder conhecer novos artistas e também formações com músicos talvez conhecidos por leitores de fichas técnicas de álbuns da música instrumental ou acompanhando nomes mais populares e que no festival ganham seu protagonismo com seus conjuntos próprios. Confesso que gosto sempre de ser surpreendido — e sempre sou — pelas escolhas feitas pelos curadores Carlos Branco e Carlos Badia (que além de idealizador do POA Jazz, fazia dupla na curadoria com o Branco até 2020), o trabalho no garimpo apresentado a cada edição traz sempre ótimos resultados refletindo numa confiança em cima das escolhas de cada lineup, por mais que a gente nunca tenha ouvido falar sabemos que vamos escutar algo muito bom. Também, principalmente na figura de Carlos Branco, um pesquisador e garimpeiro do jazz e música instrumental latina, temos a chance de conhecer artistas de países vizinhos como Argentina, por exemplo, onde existe desde sempre uma cena muito rica. 

Carlos Badia e grupo. Foto: André Feltes

É destaque também o cuidado com a cena local. Assim como nos outros anos, a sétima edição contemplou nomes de destaque e novidades na música instrumental gaúcha. O POA Jazz sempre coloca nos holofotes a efervescente produção musical do Estado com artistas que ajudaram a formatar o gênero por aqui, assim como a nova geração que ganhou muita força nos últimos anos com o próprio festival, com o saudoso programa Sessão Jazz do jornalista Paulo Moreira e com um público interessado e engajado. A possibilidade de trocas entre os músicos de diferentes gerações e escolas faz parte das noitadas no espaço do evento, onde nos intervalos dos shows público e músicos se espalham em conversas pelos bares e espaços do complexo. Este intercâmbio não se limita apenas durante a noite, um dos presentes que o festival proporciona são as palestras, masterclasses e workshops gratuitos que acontecem paralelamente durante o dia em outros espaços da cidade, nesta edição concentram as atividades no Instituto Ling. 

O que assisti neste final de semana validou mais uma vez muito do que escrevi acima. Música de alta qualidade, surpresas no desconhecido e a afirmação do POA Jazz Festival como condutor contemporâneo das muitas faces do jazz.

PRIMEIRA NOITE — Sexta-feira, 24 de março: 

Carlos Badia. Foto: André Feltes
A abertura do festival já começa com uma merecida homenagem e reconhecimento ao seu criador, Carlos Badia. Quando deixou a organização e curadoria do POA Jazz para retomar com mais força sua excelente produção musical acertou em dois pontos, já nos deixava o legado consolidado do festival e nos brinda ainda mais com a coerência musical que sempre teve. Acompanhado de um time de craques formado por Daniel Grajew (piano), Fernando do Ó (percussão), Rafael Figueiredo (baixo), Ricardo Arenhaldt (bateria) e participação especial do Amauri Iablonovski (sax) em duas músicas, Badia apresentou temas centrados nos álbuns Zeros (2015) e Voo (2021) e ainda apresentou com uma versão de "Eleanor Rigby" dos Beatles. O universo musical que transita com facilidade pelos ritmos do sul do planeta, com temperos da música brasileira e do jazz europeu, ganha ainda mais força ao vivo no palco. Banda afiadíssima, improvisos na medida certa e um repertório muito bem escolhido para apresentar sua obra para quem ainda não conhecia. O piano leve e preciso de Daniel Grajew trouxe ainda mais brilho nas composições, um dos mais destacados pianistas da música instrumental brasileira passeou com desenvoltura deixando também sua marca na proposta musical capitaneada pelo Badia. A pegada latina foi devidamente acentuada pelo lendário Fernando do Ó e o grande Ricardo Arenhaldt, formando uma cozinha de respeito com o baixo de Rafael Figueiredo. É um privilégio escutar a execução limpa nos solos do Badia — e forte quando necessária nos ritmos mais marcados. Por sinal, a estreia no palco do POA Jazz não foi somente do artista, empunhando uma linda guitarra Stacke Archtop de 7 cordas, construída especialmente em parceria com o luthier Jadir Stacke, foi a primeira vez que ela acompanhou o músico. Não tenho dúvidas da escolha certa em investir ainda mais na sua carreira musical, o que Carlos Badia tem a nos oferecer musicalmente justifica a opção.

Cristovão Bastos e Mauro Senise. Foto: André Feltes

Certamente os nomes mais conhecidos pelo público na primeira noite, e não é por menos. Com um currículo de 50 anos na história da música brasileira que não caberia em poucas páginas, Cristovão Bastos (piano) e Mauro Senise (sopros) focaram o repertório no álbum Choro Negro (2022), dedicado a obra de Paulinho da Viola, primeiro lançamento do duo. Mas vamos lá, vale lembrar alguns nomes com quem os músicos já tocaram, arranjaram e criaram juntos: Chico Buarque, Elza Soares, Aldir Blanc, Hermeto Pascoal, Gal Costa, Milton Nascimento, Edu Lobo, Wagner Tiso, Egberto Gismonti, e por aí vai. Arquitetos fundamentais da música brasileira, não pareceu difícil o entrosamento da dupla no palco. O piano harmônico e os sopros melódicos traçaram um diálogo perfeito para as composições do Paulinho da Viola. Não ficaram somente no setlist fechado do álbum, de presente o público ainda recebeu homenagens a obra de Johnny Alf, com "Sonhos e Fantasias", além do choro "Sem Palavras", do próprio Bastos. Confesso que não é o tipo de formação que mais me atrai (piano e sopro), sem a base rítmica e grave de uma formação com baixo e bateria. Não tirou de forma alguma o brilho da apresentação e a chance de ver dois músicos tão importantes no palco, mas ao longo do show foi ficando meio low profile demais para meu gosto. Gostaria de ver o show trazendo o que também ocorre no álbum “Choro Negro" (2022), onde em algumas faixas conta com percussões e baixo deixando metade em duo e a outra em quarteto. 

Cande Buasso e Paulo Carizo. Foto: André Feltes
Finalizando a primeira noite, fomos brindados com a estreia no Brasil do duo Cande y Paulo. Um brinde saboroso com os aromas e delicadezas de um vinho também encorpado. Com Cande Buasso (voz e baixo), Paulo Carrizo (piano) e o reforço do baterista Santiago Molina, desde o primeiro minuto da apresentação já sentia que estava diante de algo sensacional e marcante. Vindos de San Juan, capital da província argentina de mesmo nome colada nos andes, parece que trouxeram junto a paisagem natal na música. Um frescor sutil e seco na medida certa, contemplativo e melancólico intimista na sua natureza, o que escutamos foi de uma magnitude digna das montanhas de sua região. A voz doce e o baixo acústico de Cande prende nossa atenção de cara, de uma afinação e timbre que soa como um carinho nos ouvidos e uma condução no piano de Paulo priorizando uma harmonia perfeita da dupla, protagonizaram a melhor surpresa e show do festival. Hipnotizaram o público com seu carisma, entrega e evidente alegria e até espanto com a receptividade do público. No repertório baseado no maravilhoso álbum “Cande y Paulo” (2021) trouxeram temas de compositores conhecidos mundialmente e de gêneros que fogem ao cardápio tradicional do jazz. É na habilidade de seus arranjos e numa escolha única de canções que eles fazem a diferença. A versão para “Barro Tal Vez” de Luis Alberto Spinetta, que inclusive colocou a dupla no mapa com um vídeo de muito sucesso no YouTube, é um bom exemplo. Confesso que a versão original — que já é espetacular — agora arrisco dizer que a de Cande y Paulo chega a superar no arranjo e na interpretação magistral que entregam. A emblemática canção “I’m Waiting for The Man”, do Lou Reed, que tem na sua temática o tráfico e o submundo das drogas em New York, na versão traduzida para o espanhol como “Esperándote” parece uma música romântica onde a espera não é pelo traficante e sim pelo grande amor. Aliás, a capacidade de traduzir para o espanhol músicas em inglês, sempre foi pra mim uma arte muito bem feita pelos argentinos, se repetiu em “En Blanco Estas” para “Into White”, de Cat Stevens. Não parou por aí ainda fomos surpreendidos com temas de Neil Young, Rodrigo Amarante, Leonard Cohen, irmãos Gershwin, Atahualpa Yupanqui, e muito mais, tudo num clima quase smooth jazz de muita classe e intimidade. Um sussurro musical que encantou a todos e que foi o mais comentado pelos corredores do Poa Jazz. Que seja a primeira de muitas vindas ao Brasil.

SEGUNDA NOITE — Sábado, 25 de março:

The Jazz Passengers. Foto: André Feltes 
A segunda noite do festival proporcionou um dos momentos mais inusitados de sua história e por consequência de um grupo de jovens músicos de alto nível e um público fiel, o que poderia ter terminado no escuro e sem música se transformou numa histórica catarse jazzística. Poucos minutos depois do apresentador desta edição, o radialista Julio Fürst, abrir os trabalhos anunciando a programação e o primeiro show da noite, houve uma queda geral de luz no Centro de Eventos Barra Shopping Sul. O que parecia uma breve falta de energia, arriscou uma volta para logo em seguida voltarmos para a escuridão iluminada apenas por algumas luzes de emergência do espaço. E não voltou mais, o apagão aconteceu em alguns bairros da zona sul de Porto Alegre atingindo também o shopping onde é realizado o POA Jazz. Numa decisão corajosa dos músicos e da organização, The Jazz Passengers sobem no palco e anunciam que farão o show na íntegra, sem microfones, PA, iluminação, ou seja, um show completamente acústico na penumbra de um salão lotado. Até a luz para os músicos poderem ler as partituras foram improvisadas com os celulares dos próprios artistas. Aliás, improviso e o acústico orgânico dos instrumentos não deixam de ser uma das essências do jazz. E para a sorte de todos, logo a primeira atração tinha como características a formação de instrumentos acústicos e provaram além de uma excelente técnica uma entrega acima da média superando o imprevisto e mandando lenha na execução. Formada por nomes conhecidos da cena de Porto Alegre, ainda considerados da maravilhosa nova geração de músicos, The Jazz Passengers é um dream team da nova cena do jazz, com músicos de bandas como Marmota, Kula Jazz e de trabalhos solo de grande relevância. Com o líder Bruno Braga (bateria), Ras Vicente (piano) Ronaldo Pereira (sax), Bruno Silva (trompete), André Mendonça (baixo) e um convidado especial, o músico cubano Elio Silveira (sax), a banda desfilou grandes clássicos do jazz obviamente em cima de um repertório com base no hard bop de Art Blakey and The Jazz Messengers, que inspirou o nome da banda. Não faltaram temas como "Moanin’", "Dat Dere", além do clássico standard "Sidewinder", de Lee Morgan, entre outros. O público literalmente foi incendiado pela performance, aplaudindo a cada solo individual dos músicos e demorados aplausos ao final de cada música. Mérito total a cada um que estava no palco, tocaram com uma garra e paixão digna de sua cancha musical e profunda conexão com seus instrumentos. Foi lindo ver o público não arredar pé e permanecer no escuro — sem ar condicionado —, um gesto de respeito não só aos músicos, mas certamente um carinho construído com o próprio Festival. Com nada plugado no palco, a maior conexão aconteceu entre músicos e público, um grande espaço de eventos se tornou um pequeno clube de jazz de porão escuro, assim como nos primórdios do gênero e como muito bem colocou o baterista Bruno Braga “é mais uma prova de que o músico de jazz sabe improvisar”. A noite poderia seguir ainda por horas com a banda se fosse pela vontade da plateia e do palco, mas por questões de segurança e conforto a programação foi encerrada. A atração que viria a seguir Matías Arriazu & Sebastián Machi foi transferida para domingo, o que e infelizmente por compromissos já agendados, não foi possível com a baixista Ana Karina Sebastião.

TERCEIRA NOITE — Domingo, 26 de março: 

Sebastián Macchi e Matías Arriazu. Foto: André Feltes
Duo argentino, vindo da cidade do Paraná — capital da província de Entre Rios, com Sebastián Macchi (piano) e Matías Arriazu (violão 8 cordas) trouxe para o palco uma combinação musical cheia de texturas e improvisos num repertório autoral baseado em composições individuais adaptadas para este formato em dupla. Com um olhar muito mais focado na melodia do que no virtuosismo, Macchi e Arriazu pintam paisagens sonoras que remetem a imagens de sua cidade banhada pelo rio Paraná, deixam fluir correntezas calmas com momentos mais fortes de um rio que transborda numa cheia. Foi uma grata surpresa, diferente do que estamos mais acostumados por aqui com sonoridades do tango e chacarera, o que veio do palco trouxe uma abordagem mais universal e próxima da canção, acentuada inclusive com um momento solo de Sebastían interpretando uma canção com letra em homenagem a seu filho. Há também uma certa conexão com a música brasileira, num dos momentos trouxeram uma reverência a Egberto Gismonti e sua peça “Infância”, se não era ela ou se não foi intencional, me lembrou muito, o que faz sentido pelo próprio uso do violão de 8 cordas característico na obra de Gismonti.  

João Camarero. Foto: André Feltes
A noite que começou destacando o violão de 8 cordas do argentino Matiás Arriazu, seguiu com o violão brasileiro de 6 cordas de um dos maiores nomes no instrumento surgido nos últimos tempos, o paulista nascido em 1990 João Camarero. Eu já tinha visto uma apresentação dele em 2019, no Instituto Ling de Porto Alegre, e recordo que sai de lá com certeza de ter visto um violonista jovem do mais alto padrão musical e que ainda ouviríamos falar muito deste nome no meio da música instrumental. Não estava errado, de lá pra cá Camarero é ainda mais celebrado nacional e internacionalmente como um dos mais destacados representantes do instrumento. Já compôs com grandes nomes da nossa música como Cristovão Bastos, Paulo César Pinheiro, além de se apresentar em salas de concerto no Brasil e no mundo, tocando também com Maria Bethânia, Dori Caymi, entre outros. É muitas vezes comparado a um dos melhores e mais marcantes violonistas do Brasil, o Raphael Rabello (1962/1995). Tal comparação serve pra mim muito mais para situar ele no hall de grandes músicos brasileiros no instrumento do que no estilo, mas não deixa de ser um mérito. Diferente de músicos como Rabello e Yamandu Costa, com toques mais fortes e ásperos vindos da música popular, João Camarero tem uma sonoridade mais limpa e suave, muito mais próxima da escola clássica. Acredito que aí está o grande diferencial e reconhecimento mundial da sua música, une com muita clareza e destreza o violão popular com o clássico transitando numa linha tênue entre as duas escolas. Comprovou isso no palco com extrema destreza num repertório trazendo composições que resumem muito bem suas referências. Peças populares de arquitetos do violão brasileiro como Garoto, João Pernambuco e Rafael Rabello, choros de Paulinho da Viola, o clássico com o compositor espanhol Manuel de Falla (que também deixou sua marca inserindo o popular flamenco na música clássica) e um dos mestres na fusão do erudito com a música popular brasileira, Radamés Gnattali, que Camarero citou como seu compositor favorito.

Jambo Trio. Foto: André Feltes  
Formado por músicos experientes da cena de Porto Alegre e reconhecidos individualmente pela maestria em seus instrumentos, Jambo Trio colocou o Samba Jazz em evidência no festival. Com Luiz Henrique New (piano), Everson Vargas (baixo), Ricardo Arenhaldt (bateria) e participação especial de Amauri Iablonovski (sax) a pegada contagiante do estilo consagrado nos anos 1960 por nomes como Zimbo Trio, Milton Banana, Tamba Trio, Sérgio Mendes e tantos outros, levantou o astral do ambiente e mostrou um trabalho musical extremamente coeso. Não poderia ser diferente, com músicos desse calibre a garantia de qualidade é certa. Luiz Henrique alternando entre o piano elétrico e acústico com uma digitação espetacular, Everson Vargas tocando baixo acústico, baixo de 5 cordas e baixo fretless comprova o fato de ser um dos maiores no instrumento com uma pegada que poucos conseguem alcançar e Ricardo Arenhaldt em cada toque na bateria dá uma aula de ritmo e bom gosto digno de seu protagonismo na cena, não só como músico, também como professor de boa parte dos bateristas das novas gerações. Adorei presenciar um repertório autoral dentro do estilo, e já estou ansioso por registros fonográficos do Jambo Trio, uma vez que mesmo com referência a temas tradicionais dos trios dos anos sessenta, eles conseguem trazer sua digital na pegada e na entrega contemporânea do ritmo.

Mike del Ferro. Foto: André Feltes
Coube a Mike del Ferro (piano e sintetizador) e seu Trio, formado com os brasileiros Richard Montano (bateria) e Tiê Pereira (baixo), o grande encerramento da sétima edição do POA Jazz. O pianista holandês afirmou seu protagonismo e estilo único reconhecido mundialmente. Vindo da escola clássica do piano, que começou a tocar aos nove anos de idade, com influência direta de seu pai Leonardo del Ferro, cantor de ópera que gravou e cantou com Maria Callas nos anos 1950, foi no jazz que encontrou sua arte e construiu um estilo próprio num crossover do clássico, ópera e jazz. Tem no improviso a sua essência fundamental, mas seu forte diferencial é explorar não os temas jazzísticos ou eruditos no gênero, e sim o mérito de ter inserido a ópera como estrutura rítmica, harmônica e melódica. É muito curioso perceber as sutis diferenças ao longo do show. Ele se apropria, por exemplo, de peças italianas da ópera com ritmos e melodias mais alegres e coloridas desconstruindo com harmonias do jazz entre improvisos e o uso de sintetizador em alguns momentos como cama e respiro. Sua música, como em enredos operísticos, nos conduz por diferentes moods ao longo da apresentação, pode ir do romântico e do trágico, ao minimalismo contemporâneo entregando em atos um passeio estético pelo espectro da ópera e sua história. Mike amplia ainda mais seu repertório mostrando características também de rimos africanos além de traços esperados de “escolas europeias” como alguns trabalhos da turma da ECM Records e até do rock progressivo, citado por sinal já na primeira música, numa composição do conterrâneo Thijs van Leer, líder da banda Focus.

Sebastián Macchi e Matías Arriazu. Foto: André Feltes
Ao final das três noites do POA Jazz fica a certeza de sua consagração em meio a festivais de Jazz no Brasil e no Mundo. Mais uma vez cumpriu seu papel de entregar para o público e para os músicos uma qualidade de som impecável, um olhar contemporâneo nas escolhas do lineup, a valorização da cena local e latina e a fuga da obviedade optando por nomes talvez ainda não muito conhecidos sem esquecer de alguns já consagrados. A surpresa sempre benvinda, confiança na curadoria e produção do festival, hoje a cargo de Carlos Branco e Rafael Rhoden, já tem sua marca cravada no histórico do festival. Gosto de escutar o consagrado, mas o desconhecido que sempre surpreende é o que mais atrai. E é o que o POA Jazz nos entregou mais uma vez.

E para quem, assim como eu, sofre de abstinência Poa Jazz depois da maratona, a boa notícia é que a próxima edição já tem data marcada ainda em 2023. E a artista Ana Karina Sebastião, que não pode reagendar a apresentação cancelada no apagão do sábado, e os The Jazz Messengers que tocaram desplugados, estarão na nova edição. 

Então, certamente nos veremos outra vez em novembro deste ano!

The Jazz Passengers. Foto: André Feltes


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