Memorabilia: os 10 Melhores Álbuns de 2018
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Por Márcio Grings
Já é tradição aqui no Memorabilia, a cada doze meses publicamos nossa lista dos melhores do ano. Repito o aviso de sempre: muitas vezes algum álbum figurante em nossa relação possivelmente não esteja ranqueado em nenhuma lista dos grandes sites de música do Brasil e do mundo. É sempre uma visão particular, baseada naquilo que de uma forma ou outra acabou caindo nessa microteia, sendo detectada em nosso radar. De todo modo, alguns títulos também podem dobrar nessas listagens graúdas. Na nossa 'rela', temos quatro cantoras, seis cantores e nenhuma banda. O blues é o gênero predominante. O artista mais novo tem 27 anos, o mais velho 82. Em suma, emaranhado na avenida principal da catástrofe musical dos dias atuais, protagonizada e culpabilizada principalmente pelos meios de comunicação que insistem em nos empurrar o pior do nosso tempo, vale a dica: - se você se esforçar um pouco e buscar alternativas vicinais, e utilizando ferramentas básicas de garimpo musical, dá facilmente para concluir que ainda há boa música tremeluzindo por aí.
Ao final dessa postagem está disponibilizada uma seleção com 20 músicas, 2 de cada escolhido, promovendo um panorama da nossa listagem. Que venha 2019, a trilha sonora para aguardarmos o próximo ano já está assestada.
Clique no título de cada álbum e ouça-o na íntegra via Sportify
Ao final dessa postagem está disponibilizada uma seleção com 20 músicas, 2 de cada escolhido, promovendo um panorama da nossa listagem. Que venha 2019, a trilha sonora para aguardarmos o próximo ano já está assestada.
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Brian Ferry. Divulgação |
Quem conhece a trajetória de Bryan Ferry sabe que não é de hoje sua incursão pelo jazz. Outra evidência que depõe ao seu favor está na parceria com o Netflix na trilha-sonora da série Babylon Berlin, ambientada na capital alemã nos 1920. A experiência agradou tanto ao ex-Roxy Music, que o cantor acaba de lançar "Bitter-Sweet", álbum recheado de ragtime, blues e jazz. Acompanhado da Bryan Ferry Orchestra - Colin Good (piano e arranjos), Enrico Tomasso (trompete), Malcolm Earle-Smith (trombone), Richard White (saxofone alto e clarinete), Robert Fowler (saxophone tenor e clarinete), Alan Barnes (saxofone barítono e clarinete), Martin Wheatley (banjo e violão) e John Sutton (bateria), somos convidados a viajar por regravações de canções solo de Ferry, do Roxy, entre outros ritmos e arranjos típicos da década de 1920. Seis dos temas de Babylon Berlin estão em "Bitter-sweet", sendo que outros sete números foram gravados especialmente para o álbum. Contudo, o repertório continua alinhado ao mesmo espírito que guiou Bryan no projeto do Netflix. Para quem gosta de jazz vindo direto da escola de Scott Joplin, as instrumentais "Bitters end", "Sign on the times", "Limbo", "Dance away", "Sea breezes", "Chance meeting" fornecem o passaporte para uma divertida viagem além tempo. Entre os temas em que brilha a voz do protagonista, destaque para "Alphaville", "Zamba" e "New town", além de "While my heart is still beating" (Roxy Music). Que bela empreitada, Mr´. Ferry!
Ian Siegal. Divulgação |
Por mais que Ian Siegal não goste de ser denominado como bluesman, não há como negar que embora advindo de uma geração mais recente, o músico de 47 anos já é cascudo o suficiente para levar adiante a bandeira do autêntico blues. Esse inglês de voz rouca que escolheu Amsterdã como lar vem impressionando crítica e público nos últimos anos. Seis anos após o último trabalho de estúdio acompanhado por uma banda, "All the Rage", seu 13º álbum, merece toda nossa atenção. Embora longe de ser rotulado como um disco de protesto, algumas de suas novas canções claramente refletem raiva e ansiedade sobre nosso tempo. De todo o modo, sim, na temática das 10 canções há um bocado de senso político. Produzido pelo cantor/compositor norte-americano Jimbo Mathus (ex-Squirrel Nut Zippers), "All The Rage" explora as raízes norte-americanas do blues, além de apresentar um cruzamento contínuo com rock 'n roll, soul, blues e gospel. É também uma crítica ao autoritarismo das guerras culturais que tomaram conta do mundo nos últimos anos. A "fúria" no título também refere-se à desilusão de Siegal com a política em geral. "Jacob's Ladder" tem um ambiente musical quase britânico, confronto direto com o desespero encontrado na letra. “The Sh*t Hit”, diretamente influenciada por Muddy Waters, ícone mundial da música negra tatuado no braço esquerdo do músico. O tema reflete sobre opções disponíveis ao homem comum, isso à medida que o mundo se aproxima de um suposto estado anárquico. "Won't be your shotgun rider" combina uma vibe country com uma letra sugerindo que, em circunstâncias extremas, é melhor deixar uma alma perdida partir. Um disco que expõe o permanente cruzamento eletroacústico de Siegal. Gosta de blues? Indispensável uma audição mais atenta.
Father John Misty. Divulgação |
Father John Misty compôs um das minhas músicas preferidas nos últimos anos. "Everyman needs companion" não sai das atuais audições aqui de casa e ainda não cansei de apresentar esse som a inúmeros amigos. E novamente lá vem Josh Tillman (seu verdadeiro nome) com um bom disco. O novo trabalho de Father John Misty é auto-lacerante, escrito durante um período de seis semanas em 2016, quando o músico estava morando sozinho em meio a uma crise existencial. O álbum explora FJM numa espécie de experiência extracorpórea. Esse momento complicado da vida do cantor - quando sofreu uma depressão aguda, foi o maior inferno astral do artista. Ele viveu solitário num quarto de hotel, e nem mesmo sua mulher, Emma, tinha ideia do perrengue que estava acontecendo dentro dele. "Mr. Tillman" fala da perspectiva de um funcionário de hotel expressando preocupações burocráticas sobre o bem-estar de um hóspede que claramente não está bem. Você tem a sensação de que, mesmo nas profundezas mais angustiantes desse colapso, sua esposa servia como uma espécie de farol. Em "Just dumb enough to try" ele questiona se não precisa recomeçar do zero, uma busca desenfreada por um botão de reset. Em "The Palace", ele canta: "Ontem à noite eu mandei uma mensagem para o seu iPhone / Acredito que esteja pronto para voltar para casa". Syd Barret o visita em "Date night", assim como a permanente influência de Elton John ressurge em "Please don't lie" e "Disappointing diamonds are the rarest of them all". O resultado dessa audição perturbadora (e redentora) é que no caso de FJM, a música ainda funciona como ferramenta terapêutica para promover um inventário íntimo de reconstrução. Sinal de que o coração de Josh Tillman ainda bate em algum lugar fora dessa experiência cáustica.
Coutney Maru Andrews. Divulgação |
Courtney Mary Andrews tem apenas 27 anos, mas já pode ser considerada uma veterana. A cantora se alinha a tradição da música country norte-americana, percorrendo a mesma trilha que grandes cantoras colocaram o gênero em evidência nos anos 1970. Em "May your kindness remain" ela canta, toca guitarra e compõe todos os temas. Courtney ainda co-produziu o álbum com o inglês Mark Howard, um dos braços direitos de Daniel Lanois. Howard já mexeu os botõezinhos das mesas de áudio em discos de Bob Dylan, Neil Young, Willie Nelson e Tom Waits. Desse modo, pra quem conhece o legado de Lanois/Howard sabe que há uma ambiência característica no Toque de Midas da dupla, uma marca que migra de um trabalho para outro. Não foi diferente em "May your kindness remain". Os arranjos sonoros parecem brilhar como miragens ao redor de Courtney. Pianos sombrios, guitarras etéreas e percussões assombradas. Ouça "Rough around the edges", um claro exemplo dessa cartilha. E essa garota escreve bem pra caramba! Em "This house" ela fala de uma velha casa, permanentemente bagunçada e sobre o casal que costumava morar lá. É claro que eles não estão mais juntos - "Há uma cama no andar superior / caso você esteja na cidade / Essa casa é um lugar para guardarmos nossas memórias / Latas vazais no balcão e a roupa nunca está pronta / Para cada rosa há uma erva daninha, mas toda erva daninha é bem vinda". De todo o modo, mesmo esfacelado, ainda há um carinho, um sentimento verdadeiro que restou do legado dessa união. Ela canta que a casa é sua, mas que pertence a ambos, pois o calor de uma união pode durar até mesmo após o final de um relacionamento. "Lift the lonely from my heart" é sobre depressão, e nos alerta que para superarmos essa barra pesada precisamos de ajuda. Em "Border Song", Courtney imagina a vida de um imigrante mexicano tentando atravessar o deserto rumo aos Estados Unidos, sonhando com uma vida melhor. E como ela nos avisa na faixa-título: "Caso sua boa aparência saia de cena / Que sua gentileza permaneça". Um discaço!
Bettye Lavett. Foto: divulgação |
Dezenas de artistas já fizeram álbuns dedicados a celebrar a obra de Bob Dylan. Isso não é novidade. A diferença é que Bettye Lavette não apenas relê clássicos do Lado A do repertório de Dylan, a cantora também se aventura e ressignifica temas obscuros ou esquecidos do repertório do compositor. É o caso de "Emotionally Yours", uma das mais bonitas canções de Dylan escritas nos anos 1980, e momento iluminado de "Empire Burlesque", um de seus trabalhos mais criticados. Do mesmo disco, "Seeing the real you at last", reproduz com mais firmeza e graça o tempero reggae da versão original. Outro detalhe, a fase 'Jack Frost', alter ego do músico no que compete a produção dos discos lançados desde 2001, também pontua o tracklist. "Ain't talkin", de "Modern Times" (2006), nos joga ainda mais para dentro do universo místico de uma letra misteriosa. "Going, going, gone" uma música que Gregg Allman também regravou em seu álbum póstumo, "Southern Blood" (2017), retorna em um nova versão transcendental, uma dura reflexão sobre a morte: "Cheguei num lugar onde o carvalho não se dobra / Não há mais muito a se dizer / É o topo do fim / Estou indo, estou indo, já fui!". Em "political world", além da presença de Pino Palladino, Keith Richards é o responsável pelos solos de guitarra. "Don't fall apart on me tonight", música de encerramento de "Infidels" rejuvenesce numa releitura soul. A presença de Steve Jordan, baterista de Richards nos projetos solo (também produtor do álbum), e Larry Campbell, guitarrista que trabalhou com Dylan nos anos 1990, chancelam qualidade na moldura que abraça a voz da cantora. "Things have changed" traduz uma notável combinação de repertório, química entre os envolvidos e talento de Bettye Lavette em galvanizar esse encontro musical e repertório.
Rosanne Cash. Divulgação |
Muitos já partiram, mas ainda há várias lendas vivas da música country norte-americana que continuam gravando e tocando. Willie Nelson, Kris Kristofferson, John Prine, Rodney Crowell, são alguns deles, e também não podemos esquecer de ícones femininos como Emmylou Harris, Joan Baez, Mary Chapin Carpenter, e Rosanne Cash, é claro. Rosanne é filha do Homem de Preto, e com uma carreira de 40 anos de estrada, já conquistou seu espaço na música country, totalmente pelos próprios méritos, independente do peso de seu sobrenome. "She remembers everything" carrega influências de muitos gêneros. A voz de Cash acrescenta dramaticidade as histórias que ela compartilha. E por mais que o atual trabalho não nos apresente um posicionamento político, "She remembers everything" fala sobre o mundo moderno e suas tribulações. Em "8 Gods of Harlem", um dos momentos mais interessantes do álbum, ela relembra sua posição como defensora no controle de armas nos Estados Unidos. Com participação de Kris Kristofferson e Elvis Costello, cada voz oferece uma perspectiva diferente sobre um tiroteio, um rastro de corpos causado por violência armada. Em novembro, Rosanne será homenageada com o prêmio John Lennon Real Love, um reconhecimento, segundo Yoko Ono, da "voz apaixonada como artista e ativista". Cash está encantada com a honra. "Estou muito feliz com a lembrança. Eu era uma grande fã de John e dos Beatles, e minha música favorita era 'No Reply'. Às vezes eu ainda penso comigo: 'O que John faria?'", disse numa entrevista no início desse mês. Provavelmente o ex-beatle pararia para ouvir bonitas canções como "Everyone but me", "Particle and wave" e a faixa título, com participação da cantora Sam Phillips. Admirável essa genética da família Cash.
Buddy Guy. Divulgação |
Buddy Guy, uma incrível força da natureza que não cessa. Provavelmente o maior nome do blues da velha escola ainda vivo e na ativa. E segundo ele próprio, o blues anda bem das pernas e passa muito bem, obrigado! O novo álbum, "The blues is alive and well", mantém a produção do atual colaborador, Tom Hambridge, que também toca bateria no álbum e co-assina vários temas. É um disco de blues feito para os fãs de blues. Sem dúvida um dos destaques do álbum está em "Cognac", com participações de Keith Richards e Jeff Beck. Fica muito fácil perceber quando um ou outro toca. Beck continua soando futurístico, e Richards soa mais antigo que o próprio Guy. Outro Stone, Mick Jagger, trouxe a harmônica para o estúdio e colabora em "I did the crime". Sempre gostei da abordagem de Jagger como gaitista. E quando o dono da bola retorna ao repertório clássico ao qual atuou como guitarrista em muitas gravações, como no caso de "Nine Below Zero", aí é covardia! O tema de Sonny Boy Williamson, é simplesmente a faixa perfeita. A guitarra e a voz de Guy esbofeteiam sua cara, enquanto a bateria apenas dá a batida. Outro destaque está em "Milking Muther for Ya", apenas Guy, sua guitarra e o vocal inconfundível. "Blue No More" traz James Bay num dueto vocal. "Um destes dias, a estrada vai acabar", eles cantam. A guitarra do blueman mantém um tom suave e sofisticado, com todas aquelas maravilhosas blue notes que o consagraram como instrumentista. A grande mensagem do álbum está nos segundos finais da faixa título: "Meus amigos disseram antes de morrer para manter o blues vivo". Alguém tem dúvida que essa lenda viva de 81 anos obteve sucesso nessa tentativa?
Marianne Faithfull |
Marianne Faithfull parece ter vivido todas as oscilações que uma alma pode suportar. Artisticamente, em mais de 50 anos de carreira, sentiu o sabor do estrelato e o dissabor do esquecimento. Detonada pelo abuso de drogas, passou por um longo hiato até ressurgir no final dos anos 1970 com o álbum "Broken English". "Negative Capability" tem o título inspirado pelo poeta romântico John Keats, e certamente já pode ser considerado um dos melhores trabalhos de sua carreira. Com uma voz esculpida pela vida, tragédias pessoais e cigarros, Marianne soube escolher a dedo as canções de seu novo disco. Gravado em Paris, "Negative Capability" tem produção de Rob Ellis (PJ Harvey) e Warren Ellis (Nick Cave). Entre os colaboradores, Nick Cave, Ed Harcourt e Mark Lanegan. "They come at night" é inspirada pelos ataques em Paris; "No moon in Paris" reflete sobre o passar dos anos; a regravação de "It's all over now, Baby Blue" (Bob Dylan) soa revigorada na reinterpretação de Marianne; A nova gravação de "As tears go by" pende sobre um tipo de significado que só a poeira dos anos pode emprestar a uma velha história. Enquanto os vocais de Nick Cave podem ser ouvido em "The Gypsy Fairie Queen", o violino de Warren Ellis abençoa canções como "Missunderstanding" e "Born to live". É inevitável traçar paralelos com os últimos trabalhos de Johnny Cash ou Leonard Cohen, mas nem tudo é desgraça ou melancolia. O espírito imbatível de Faithfull brilha em diferentes momentos do álbum, onde ela também se abre para o amor e a esperança. Como em "In my own particular way", quando canta "Eu sei que sou jovem e não estou arruinada / Ainda sou bonita, gentil e engraçada / E estou pronta para amar". No final das contas, essa 'capacidade negativa' equaliza as coisas, algo que não posso deixar de não me identificar.
Tony Joe White. Divulgação |
Se Wiliam Falkner tocasse blues ele soaria como Tony Joe White", disse o jornalista Rhis Williams. Ele acaba de bater as botas, nos deixou no último dia 24 de outubro, aos 75 anos, apenas 26 dias após o lançamento de "Bad Mouthin'". Tony Joe White é uma das lendas esquecidas da música norte-americana. Seu grande sucesso, "Polk Sallad Annie", era uma das preferidas de Elvis durante seus tours nos anos 1970. Tony foi muito mais do que um one hit man... Em 2016, cravei o sinistro "Rain Crows" como um dos melhores discos daquele ano. E por incrível que pareça, entrando para o time desses véios FDP que até o último minuto no planeta conseguem dar o melhor de si dentro de um estúdio, assim como Bowie, Cohen, Allman, Tony Joe se despede desse mundo cão com um disco fantástico. Na maioria das canções, é somente ele, uma voz cansada, uma soprada eventual na harmônica e a velha Strato 1965 sendo dedilhada com sua peculiar palhetada. Em algumas canções, o velho colaborador Bryan Owings (bateria) e Steve Forrest (baixo) dão o ar da graça. E se você olhar para o tracklist e encontrar um monte de temas manjados e pensar que 'lá vem uma pá de releituras previsíveis', esqueça! Nada disso. A versão de Tony para "Baby please don't go" é o mais próximo que alguém pode soar de Lightnin' Hopkins. "Boom, boom" de John Lee Hooker é totalmente subvertida. "Big boss man" (Jimmy Reed) e "Down the dirty road blues" (Charley Patton) surgem como nuvens negras obscurecendo a droga do céu azul. Porém, tudo pode ser condensado na versão de "Heartbreak Hotel", como se Elvis voltasse para buscá-lo em agradecimento a "Polk Sallad' e cantasse com Tony o último verso de uma das canções que o transformou numa lenda: "They'll be so lonely, they could die".
Ry Cooder. Divulgação. |
Ry Cooder se tornou conhecido ainda nos anos 1960 por colaborações com Taj Mahal, Rolling Stones e pela sua habilidade em tocar slide. Construiu uma carreira solo fantástica, empilhando um disco melhor que outro. No entanto, tornou-se reconhecido mundialmente pelas trilhas sonoras de filmes, longas como "Crossroads" (1986) e "Paris, Texas" (1986), além da grande empreitada de sua vida fora dos Estados Unidos, o projeto Buena Vista Social Club. Em "Prodigal son", Cooder retorna à sua cruzada pessoal como músico de raiz, atuando no território da tradição gospel, blues, folk e bluegrass. A produção é do filho, Joachin Cooder, que também é o responsável pela bateria e percussão. Essa genuína química entre pai e filho é uma das marcas do disco. O resultado nos dá pérolas inéditas como "Straight Street" e "Harbor of Love". Quando o músico se aventura em reler os velhos bluesman das décadas de 1920/30, eis uma presença legítima nesse universo. As remontagens de "Nobody's fault but mine" e "Everybody ought to treat a stranger right", duas gemas de Blind Willie Johnson, um de seus maiores ídolos, são assombros distópicos. Aos 71 anos, sua voz está ainda melhor. É o que podemos ouvir na fábula "Jesus and Woody", uma das faixas inéditas do álbum, além de uma inspiração nigeriana nas cordas. "The prodigal son" reflete Ry Cooder viajando pelos ritmos, cavando o passado de personagens musicais de seu pais para ressuscitá-los nos seus álbuns. O leitor do Memorabilia certamente não irá encontrar o novo álbum de Cooder em muitas listas dos melhores do ano, mas acredite - poucos discos podem ser mais interessantes e plenos em suas intenções como "Prodigal son".
Ouça uma seleção com 20 temas dos nossos escolhidos de 2018.
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