Kototama
#
Crônica #2 publicada no Diário de Santa Maria (27/07/2012 | N° 3205)
Segundo os japoneses, há um significado implícito em cada pequeno fragmento de vida, ou seja, estamos passando recados e nos comunicando até mesmo quando não percebemos. Isso acontece quando escolhemos cores, números, palavras, pessoas, músicas, etc. Eu gosto desse lance, acho que definitivamente existe mágica, inclusive nas pequenas coisas do cotidiano. Somos aquilo que escolhemos ser, e quer queiramos ou não, pagamos o preço por nossas mancadas, como também saboreamos os acertos. E por isso, não devemos reclamar uma vírgula quando inevitavelmente nadamos contra a correnteza. É por nossa conta e risco.
Segundo os japoneses, há um significado implícito em cada pequeno fragmento de vida, ou seja, estamos passando recados e nos comunicando até mesmo quando não percebemos. Isso acontece quando escolhemos cores, números, palavras, pessoas, músicas, etc. Eu gosto desse lance, acho que definitivamente existe mágica, inclusive nas pequenas coisas do cotidiano. Somos aquilo que escolhemos ser, e quer queiramos ou não, pagamos o preço por nossas mancadas, como também saboreamos os acertos. E por isso, não devemos reclamar uma vírgula quando inevitavelmente nadamos contra a correnteza. É por nossa conta e risco.
Voltando a falar dos orientais,
dá pra compreender essa morfologia com um único exemplo. A palavra “Kototama”. Koto - palavra; Tama – espírito. Espírito da palavra. Reza a cartilha que, se você
tem o costume de pronunciar maledicências, palavrões e xingamentos de forma
gratuita, por exemplo, irá atrair o lado negativo da força para o seu lado. Já
o contrário, palavras positivas o aproximam do face ensolarada, como uma janela
aberta em uma manhã de sol.
Apesar da simpatia com o tema, eu
via essa jogada de forma dissonante. Algumas coisas da minha vida sempre
estiveram linkadas ao viés nefasto da existência. Como descartar um sujeito
como Charles Bukowski e toda sua errática filosofia? Buk sempre foi um dos meus
favoritos na literatura. Detesto escritores extremamente assépticos. Falando da
lama, como não curtir um bluesman como Robert Johnson e o dilema entre o bem e
o mal que permeou sua existência? Crossroads
Blues, canção em que o músico relata um suposto encontro com o diabo é um
bom exemplo disso. Reza a lenda que Johnson teria vendido sua alma ao capeta
para obter talento como músico. Os nebulosos “kototamas” implícitos na letra da
música não a impediram de tornar-se um dos maiores clássicos de todos os
tempos. Mas vale lembrar que poucos meses depois, Johnson bateu as botas com
apenas 27 anos, derrubado por uma garrafa de bourbon diabolicamente batizada
por um marido ciumento.
*
*
*
*
*
Na verdade, no meu ponto de vista, um bom artista, não
necessariamente precisa ser alguém ajustado com o sistema. Bem pelo contrário.
“A Falta de compostura é a marca do herói”,
como diria Jean Cocteau. Artistas são seres humanos perturbados, assombrados
pela tríade kerouaquiana - "Aimer, Travailler et
Souffrir", ou
seja, esses caras geralmente estão encardidos (e potencializados)
pelos sacolejos do amor, trabalho e percalços da vida. Antenas da raça.
Voltando a Robert Johnson, lembro-me de Love
in Vain, uma das mais belas canções de despedida de todos os tempos. Um
homem de coração partido com uma mala na mão. Ele ruma até uma pequena estação
de trem, destroçado pelo fim de um relacionamento. Para bem e para o mal, uma
canção sendo proferida pela boca de um cantor sempre será um poderoso
“kototama”.
*
**
*
Pra encerrar, acabo de descobrir na rede esse vídeo de pouco mais de 2min e 1/2 que conta a história de RJ. A animação relembra os mitos por trás do homem. Desde o início duro, nas plantações de algodão, até o pacto na encruzilhada, o sucesso repentino, as mulheres e finalmente sua morte, que na animação é mostrada da maneira mais aceita pelos estudiosos: envenenado por um marido ciumento.
E termina com a seguinte frase: "Sem Robert Johnson, sem rock n' roll." Vale o clique.
Comentários
Postar um comentário