REview: Gregg Allman "Southern Blood" (2017)

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Por Márcio Grings

Sempre vi Gregg Allman como um daqueles foras-da-lei fantásticos que a música nos deu. E estar na estrada por tanto tempo com uma banda de rock'n'roll não é para os fracos. Essa vida pregressa tem um preço. Hedonismo, excessos, corações partidos,  e óbvio - muito trabalho.

Só pela carreira à frente do The Allman Brothers Band, Gregg já tem seu nome encravado no panteão dos grandões da música do sul dos Estados Unidos. Mas ainda temos sua carreira solo, repleta de bons momentos.

Sua despedida foi a lá David Bowie e Leonard Coehn, pois o músico registrou um autêntico epitáfio musical em "Southern Blood", álbum póstumo que parece encapsular o ideário musical desse artista que nos deixou no último mês de maio. Allman tinha perdido sua vitalidade desde um transplante de fígado de 2010. No momento em que começou a colocar a mão na massa em "Southern Blood", seu câncer de fígado retornou, embora poucos soubessem disso. Percebendo que a areia escorria rapidamente pela ampulheta, começou a acelerar todo o processo de gravação com o produtor Don Was. E o músico cumpriu com louvores essa derradeira missão. 

Uma das última fotos em palco de Gregg, Divulgação
Para isso, Gregg e Don usaram o lendário FAME Studios para captar "Southern Blood", local que além de ser o berço de algumas das maiores gravações de soul e rock dos anos 1960/70, foi o mesmo território onde o irmão de Gregg, Duane, era session musicion de nomes como Wilson Pickett, Clarence Carter e Arthur Conley. Foi lá também que Gregg e Duane gravaram como membros do Hour Glass, banda pré-Allman Brothers, e mesmo ambiente em que o próprio TABB gravou vários clássicos. 

Na única música inédita do álbum, a balada "My Only True Friend", Allman declara sua fidelidade à estrada, sempre à custa do sacrifício de seus relacionamentos, afinal: "mulher de músico é a música". No entanto, quando o músico canta, "Quando eu tiver partido, espero que você fique assombrada com a canção da minha alma", é claro que ele está se despedindo de todos nós. 

E entre as músicas escolhidas a dedo, temas de Percy Sledge, Grateful Dead (a iluminada Black Muddy River), Dr. John, Tim Buckey, Willie Dixon, Jackson Browne (que participa do álbum), entre outros. Destaques para a versão de "Willin'" (Little Feat) e "Going Going Gone" (Bob Dylan) onde a letra confessa: "Cheguei num lugar onde o carvalho não se dobra / Não há mais muito a se dizer / É o topo do fim / Estou indo, estou indo, já fui! Estou fechando o livro / Páginas e textos / E não importa mesmo o que vai acontecer / E só estou indo, estou indo, indo". Você está nos seus últimos momentos no planeta, e essa é a maneira que escolhe pra se despedir, com canções. De longe um dos discos mais bonitos que ouvi esse ano.

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