Entrevista: saiba mais sobre Moogie Canazio, responsável pela engenharia de som no novo álbum de Vitor Ramil

Moogie com Vitor no estúdio Áudio Porto (PoA). Foto: Guilherme Bragança





Por Márcio Grings

Na correria dos dias atuais, muitas vezes não lemos as linhas miúdas nos álbuns e filmes. Com isso, é comum segregarmos ao esquecimento grandes profissionais. Falando nessas 'entrelinhas', um gigante nesse quesito é o carioca Antônio 'Moogie' Canazio, nome responsável pela engenharia de áudio de "Campos Neutrais", novo álbum de Vitor Ramil. O disco está sendo gravado no estúdio Áudio Porto, na Capital gaúcha.

Participe da campanha de financiamento coletivo de "Campos Neutrais"

Divulgação 
Músico, compositor, engenheiro de som, produtor, DJ, esse brasileiro que vive nos Estados Unidos há quase trinta anos, já trabalhou na gravação de mais de 500 álbuns. Atuou em trabalhos de Sarah Vaughan, Diana Ross, Barbra Streisand, Burt Bacharach, James Taylor, Sérgio Mendes, João Gilberto, Ivan Lins, Caetano Veloso, Milton Nascimento, entre outros. Em várias funções e atuações, produções com suas assinaturas foram indicadas a 29 Grammys! (o maior prêmio da música mundial). Levou 7, entre eles destacamos sua participação como engenheiro/mixador e produtor do álbum "João Voz e Violão" (2000), de João Gilberto, vencedor como "Best World Music Album", e em "Contando Histórias" (2004),  de Ivan Lins, ganhador nas categorias "Álbum do Ano" e "Melhor Álbum de MPB". Em novembro do ano passado, Ian Ramil ganhou o Grammy Latino de "Melhor Álbum de Rock", por "Descivilização. Quem mixou o disco? Moogie Canazio, claro!      

Depois de atuar em nome do filho do homem (Ian), agora ele trabalha para o pai (Vitor). Sobre sua posição diante a grandes nomes da música nacional e internacional, ele diz: "Artistas são pessoas fascinantes de você estar perto, pelo talento, genialidade (...) Alguns são muito difíceis, mas de todo o modo, eles tem o direito de serem difíceis, pois são geniais, e possuem uma linha de raciocínio muito diferente da nossa. Por terem essa linha de raciocínio pouco ortodoxa, é muito fácil serem taxados de loucos. Não são loucos, são gênios". Veja vídeo no final da postagem.

Moogie Canazio chegou a Porto Alegre no início dessa semana, e fica até o próximo dia 9 de abril, quando encerra o processo de captação de "Campos Neutrais". O Memorabilia conversou por telefone com ele na manhã dessa sexta-feira (31). Em primeiro lugar, Moogie se declara um apaixonado pela sua profissão:

Moogie em ação no estúdio Áudio Porto. Foto: Guilherme Bragança
"Eu sento nas duas cadeiras - na de produtor e engenheiro, e me considero um profissional dedicado, estudioso e que ama o seu ofício. No estúdio, procuro sempre ser muito honesto com todos a minha volta". 

Sobre o trabalho como engenheiro de som em "Campos Neutrais", ele não poupa elogios ao protagonista: "Eu sou um fã gigante do Vitor. Dentre várias características dele, uma que me fascina é honestidade com sua obra, e ele não negocia essa honestidade. E trabalhar com ele nos passa a sensação de que estamos envolvidos numa espécie de marco histórico próprio do artista e também da música do nosso país". E ele nos diz mais: "Fazer um disco para Vitor Ramil não é apenas fazer um disco como qualquer outro. O processo de construção desse álbum passa por muita pesquisa, preocupação com detalhes e preparações, com isso, mesmo antes de 'Campos Neutrais' ser conhecido do público, ele já coloca uma marca de qualidade no disco".    

Circo armado para captação. Foto: Guilherme Bragança
Moogie Canazio acredita que a excelência, tanto na sua atuação, quanto nos artistas que estabelece algum vínculo profissional, leva a um lugar maior: "Ser exigente com sua própria obra tem que ser o objetivo de qualquer artista. Isso confere uma assinatura. Tenho orgulho de em mais de trinta anos de carreira trabalhar ao lado de grandes nomes da música mundial. Nunca busquei atuar com artistas ao qual essa matéria prima apenas nos leve ao sucesso de vendas ou uma preocupação com modismos. Pelo contrário, minha tendência a vida inteira foi eleger projetos aonde eu acredito no conteúdo como obra e contribuição cultural". Certamente esse é um dos símbolos que tornaram sua trajetória reconhecida, premiada e respeitada.  

Foto: Guilherme Bragança

Ainda sobre o trabalho com Ramil, ele chama a atenção para a concentração e profissionalismo do seu contratante: "Momentos antes de gravar as vozes ontem (quinta-feira, 30), o Vitor fez todo um processo de preparação para obter a melhor performance. É um privilégio poder conferir isso bem de perto e ver uma nova obra nascer. Todos os méritos pra ele, pois apesar de eu ter apenas uma pequena contribuição em todo o processo, eu me sinto privilegiado por esse momento".

E ao final, conclui: "As músicas que estamos gravando são extraordinárias. É um daqueles projetos desapegados de uma compensação monetária imediatista, e assim passa a ser um declaração inédita do artista".  
    
Veja breve vídeo com Moogie expressão alguns de seus pontos de vista.  

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