Só as mães são felizes

Madonna Litta (Leonardo Da Vinci)


Crônica #9 publicada no Diário de Santa Maria 14.09/2012 | N° 3247


Como de costume, antes de eu sair de casa, minha mãe preparou um almoço simples e saboroso. Carne frita, polenta, lentilha, arroz e salada de couve crua com talos de alface. Servi um cálice de vinho. Durante a refeição, ela ficou se desculpando por não ter feito algo mais aprimorado. Deus! Mães são assim, espontaneamente cheias de amor no coração. Preparam-se todos os dias para oferecer o melhor. De modo que, na cabeça delas, seremos para sempre seus protegidos. A última lá de casa é que mamãe está guardando minhas crônicas no jornal. O objetivo é muito claro. “Sabe-se lá onde essas páginas vão parar?!”, disse ela. “Não quero ver tua foto jogada em qualquer lugar”, concluiu.

Logo depois, no ônibus a caminho do trabalho, retomei a leitura de uma biografia de Jack Kerouac escrita por Barry Miles. Na página 44, o autor narra que, certa noite, quando o escritor tinha 12 anos, recusou-se a dormir sozinho e visitou a cama da mãe. Ele conta que Jack passou horas confortáveis aconchegado nas costas quentes de sua progenitora. Com os olhos abertos, ele observava as sombras das árvores na parede, sentindo que nada podia lhe fazer mal. O menino concluiu que algum monstro só poderia levá-lo se levasse sua mãe junto, e já que ela não tinha medo das sombras, ele estaria a salvo.

Chegando ao meu destino, fechei o livro, levantei-me e puxei a campainha. Antes de chegar à porta, vi uma jovem senhora com o seio de fora amamentando seu bebê, ali mesmo, dentro do ônibus, e sem demonstrar a mínima preocupação com tudo que acontecia a sua volta. Eu sempre fiquei impressionado com uma cena dessas. Só as mães conseguem ser assim, despreocupadas com o mundo exterior, apenas pensando no bem estar dos seus.

Enquanto sussurrava palavras de carinho, aquela mulher alimentava o filho com extrema afeição e cuidado. O rebento estava grudado no seio esquerdo dela. No banco ao lado, um garoto de cerca de uns 7 ou 8 anos, que devia ser seu filho, se recusava a admirar aquele quadro. Com o rosto colado na janela, o jovenzinho parecia envergonhado. Lembrei que, quando meu irmão caçula nasceu, eu tinha apenas 5 anos e, na época, também fechava os olhos ou virava o rosto quando minha mãe amamentava meu irmãozinho. Eu me vi naquele garoto.

Sob a ótica masculina, é difícil entender tamanha entrega que as mulheres despendem aos filhos. Tenho certeza que grande parte das mães que conheço trocaria a própria felicidade pelo júbilo e realização de sua prole. Voltando aquela citação da biografia de Jack, lembro que, quando era pequeno, também recorria aos lençóis da minha mãe para espantar os fantasmas. E eles sempre desapareciam quando eu chegava perto dela. E, apesar dos protestos de meu pai, eu ficava por lá até o amanhecer.

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