"John Lennon escutava Genesis", diz Steve Hackett, músico inglês que toca em PoA no próximo dia 20

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Por Erica Roumieh

Compositor, guitarrista, vocalista e ex-Genesis, Steve Hackett é um modelo a ser seguido. Sua paixão pela diversidade da humanidade e sua preocupação com a situação mundial atual é algo comovente. Aproximando-se de seus shows no Brasil, onde ele irá passar para divulgar seu último álbum The Night Siren (2017), o britânico reservou alguns minutos para conversar com o Wikimetal (leia material original AQUI) e revelar alguns detalhes sobre o processo criativo do disco e suas ideias de como a música tem o poder de derrubar as barreiras que só vêm crescendo.

“Eu acho que a música faz aquilo que os políticos fracassam em fazer. No momento, a maioria dos países parece estar a caminho do nacionalismo, mas eu acho que a música tem a oportunidade de construir pontes entre as pessoas”, ele começa dizendo.

A força de sua crença de que “a música cura as diferenças entre as pessoas” é transparente em seu disco, principalmente na faixa “Behind The Smoke” onde em seu clipe ele mostra as dificuldades da população do Oriente Médio e cria uma ligação com o mundo ocidental enquanto canta “Encontraremos nosso futuro em breve / Uma faca em nossos corações / Enquanto o mundo está despedaçado”.

Steve trabalhou com mais de 20 artistas de diferentes países e se orgulha de sua obra: “Pessoas de Israel e da Palestina trabalhando com pessoas de Azerbaijão, Islândia e Estados Unidos e trabalhando com instrumentos de todo o mundo, é isso que eu acho que é o papel da música. “

Ele revela que todos aqueles que se juntaram para fazer The Night Siren possível são seus amigos e colegas, pessoas que ele conheceu durante suas viagens desde a época do Genesis, “Foi uma extensão natural da amizade. Trabalhar com pessoas de fora e pessoas de casa [Reino Unido]”, ele diz, “Às vezes trabalhando juntos no mesmo local, às vezes enviando ideias para o outro lado do mundo”, ele conta quando questionei sobre o processo de criação do disco.

Com palavras de orgulho e felicidade, o guitarrista explicou que o trabalho foi inteiramente baseado em conhecer culturas novas e explorar diferentes estilos e instrumentos musicais: “A ideia é a mesma em todo o lugar: a paixão pela música (…) Trabalhar com pessoas de todo o mundo é algo incrível. Você se junta e se esforça para entender a pessoa e entender seu idioma e eventualmente vocês ‘se entendem’ [disse ele em português]. “

Ao tentar conversar em português, Hackett demonstrou, mais uma vez, sua paixão e seu interesse em entender o próximo, em respeitar as diferenças e, acima de tudo, criar um vínculo com o próximo. “Sabe, há um tempo atrás eu trabalhei com músicos brasileiros”, ele conta após tentar mais algumas palavras em português, “Nos anos 1980 eu lancei o álbum Till We Have Faces e trabalhei com vários músicos brasileiros nele, vários percussionistas. Esse que é o legal da música, você pode trabalhar com várias pessoas diferentes. “

Till We Have Faces foi gravado em sua maioria no Brasil com artistas como o baixista Ronaldo Diamante, o percussionista Waldemar Falcão e o baterista Rui Motta que fez parte do grupo Os Mutantes entre 1973 e 1978. O disco foi gravado entre 1983 e 1984 e foi levado a Londres para ser mixado.

Ao falar mais sobre seu trabalho com diferentes artistas, a questão de onde suas influências vieram foi levantada: “Quando era jovem, eu escutava um rock and roll básico e então eu ouvi Segovia quando eu tinha 15 anos e foi como se tudo o que eu tivesse aprendido no rock fosse algo que eu pudesse tocar um dia para um público e então eu comecei a ouvir música clássica e se tornou um prazer secreto e eu nunca pensei que esses dois estilos de música pudessem se unir mas comecei a perceber algumas influencias como o trabalho do George Martin com os Beatles, o uso de orquestra, a influencia do [The] Moody Blues… Todas essas bandas, inclusive Genesis, todos nós estudamos como misturar diversos gêneros.”

Relembrando o som único de Genesis que, segundo Hackett, teve influências das mais diversas origens, ele conta sobre o momento em que ele e seus colegas descobriram a força que a banda tinha: “Em 1973, John Lennon deu uma entrevista onde ele falou que escutava Genesis então todos nós ficamos muito orgulhosos naquele momento que nossas influencias estavam começando a nos ouvir“.

A importância do Genesis hoje é inquestionável e no tempo em que vivemos hoje que revivals e reuniões estão surgindo a cada dia, muitos fãs ainda torcem para um retorno, mas Hackett revela que “estar em uma banda é competitivo e não temos muito espaço para crescer pessoalmente. Nossa música [do Genesis] era gravada na Inglaterra ou na Holanda e a música que faço hoje é gravada em vários lugares diferentes. É um privilégio poder fazer isso, é uma honra. Eu acho que é o melhor emprego do mundo, ser pago para tocar, é maravilhoso. Nós fazemos barulho e recebemos para isso".

E quando a ligação foi cortando, ele gentilmente pediu em português “pode falar mais uma vez, por favor?”, e ao perguntar sobre sua visita ao Brasil, ele revela que pretende ser “um turista no país”, também falando em português.

“Eu irei tocar algumas coisas da minha carreira solo, algumas do Genesis, a banda que tive com Steve Howe [GTR]. Sabe, é material para três bandas. Eu lembro de vir ao Brasil há um tempo atrás e ouvir uma das músicas do álbum Selling England by the Pound tocando no rádio e eu pensei ‘Eles não tocam essa música nem em casa na Inglaterra’ então eu sabia que aquilo era algo grande para o Genesis, pois éramos maiores fora de casa. Mas é normalmente isso que acontece, os artistas costumam ter mais sucesso fora do que em seu próprio país. “

Chegando ao final da nossa conversa, entre agradecimentos e palavras de despedida, o músico tenta seu português novamente: “Muito obrigado. Até. Tchau”.

Steve Hackett se apresentará em Porto Alegre (20/03), São Paulo (22/03), Rio de Janeiro (23/03) e Belo Horizonte (25/03). Mais informações sobre os shows abaixo. 

Steve Hackett no Brasil
Porto Alegre – 20 de março
• Local: Auditório Araújo Vianna – Av. Osvaldo Aranha, 685
• Horário: 21h
• Ingressos: de R$ 95 (meia) a R$ 340
São Paulo – 22 de março
• Local: Espaço das Américas – R. Tagipuru, 795
• Horário: 22h
• Ingressos: de R$ 80 meia) a R$ 380

Rio de Janeiro – 23 de março
• Local: Vivo Rio – Rio Endereço: Av. Infante Dom Henrique, 85
• Horário: 22h
• Ingressos: de R$ 90 (meia) a R$ 320 
Belo Horizonte – 25 de março
• Local: Grande Teatro Palácio das Artes – Av. Afonso Pena, 1537
• Horário: 19h
• Ingressos: de R$ 100 (meia) a R$ 280

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