Há 201 anos nascia Walt Whitman. Reveja campanha da Levi's com rara narração do poeta

Walt Whitman. Arte: reprodução
Por Márcio Grings

Sempre acreditei que um bom anúncio publicitário pudesse ser apreciado como um pequeno filme, uma gota solitária num marasmo de mesmices, um sopro de criatividade em um mundo repleto de pastiches insalubres. Aproveitando a data dos 201 anos do nascimento de um dos maiores poetas nascido nos Estados Unidos, Walt Whitman (Huntington, 31 de maio de 1819 – Camden, 26 de março de 1892), relembro uma campanha da Levi's de 2009.

Dirigida pelo californiano Cary Fukunaga (cineasta responsável pela série 'True Dectetive'), o spot vem atrelado de um raro simbolismo, cada vez mais ausente quando nos deparamos com comerciais na TV. Usando o poema "America", a propaganda utiliza a voz do poeta norte-americano Walt Whitman (gravada de forma rudimentar no final do século XIX!) narrando seu texto.

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É uma América de cariz romântica, mesmo que agora esse emocionalismo inclua novas identidades que no tempo de Whitman não faziam parte do sonho americano — especialmente os negros, maioria no comercial  — ligação direta com 2020 e os protestos gerados pala morte de George Floyd, afro-americano que morreu no último dia 25, depois que o policial Derek Chauvin de Minneapolis se ajoelhou no pescoço de Floyd por pelo menos sete minutos, enquanto ele estava algemado e deitado de bruços na estrada.

No vídeo abaixo, além de Fukunaga, o fotógrafo Ryan McGilnley (discípulo de Robert Mapplethorpe) é o responsável pela divisa fotográfica da campanha. 



Indico aos leitores três versões publicadas no Brasil. A edição de 'Leito de Morte' de "Folhas de Relva" (Editora Hedra), com tradução de Bruno Gambarotto, último tomo de seu livro editada originalmente nos EUA em 1890, poucos meses antes de sua morte. O segundo indicado é "Folhas de Relva" (Editora Iluminuras), que para muitos revela a melhor tradução de Whitman no Brasil, a cargo de Rodrigo Garcia Lopes, livro que reimprime a primeira edição publicada em 1855. E por último, "Folhas das Folhas de Relva" (Editora Brasileiense), compilação com tradução devotada de Geir Campos e bela introdução à obra do poeta. Salve, Walt!

Arquivo pessoal

No cinema, tratando-se da busca de conexões com sua poesia,  um filme muito lembrado é "Sociedade dos Poetas Mortos" (1989), de Peter Weir, quando chegamos ao professor de literatura inglesa John Keating (Robin Williams), devotado apóstolo do poeta. Na música, inspirado inicialmente em um trecho de "Song to Myself", de Whitman, “I Countain Multitudes”, novo single de Bob Dylan, mantém forte ligação com seu espírito poético/literário — “Me Contradigo? Tudo bem, então me contradigo, sou vasto, contenho multidões", extraído de "Folhas de Relva", Bíblia wtthmaniana. Ouça. 

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