UM LIVRO PRA GUARDAR NA ESTANTES DE DISCOS

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Há cerca de uns cinco anos, através do amigo Robertson Frizero, tive a oportunidade de fazer uma primeira leitura de “Coltrane” (2009), graphic novel escrita e desenhada pelo artista italiano Paolo Parisi.

Na época, Frizero me enviou um exemplar para avaliarmos sobre a possível publicação da HQ em português. Lembro que nessa troca de figurinhas houve (de ambas as partes) um misto de arrebatamento e deslumbre.

Passado alguns anos, eis que recebo pelo correio o livro em português publicado pela Editora Veneta (128 páginas, R$ 45). É quando nos deparamos com a história de um dos maiores e mais enigmáticos músicos do século XX, onde consequentemente também temos um importante recorte do nosso tempo. A infância pobre de John Coltrane, os amores, a saída do anonimato com Miles Davis, os problemas com as drogas, com a violência desleal do racismo, a luta pelos direitos civis, a constante busca em sempre dar o melhor de si, além do talento e a paixão pelo experimentalismo que o colocaram no centro pulsante do jazz dos anos 1950/60.


Em uma das passagens do livro, há uma conversa informal entre Miles e Coltrane:

Miles – Trane, você é esse tipo de músico. Mesmo que houvesse uma mulher nua na sua frente, você não tiraria a boca do sax (...)

Coltrane: Miles, somos duas pessoas completamente diferentes. Você me ensinou, criticou minha insegurança no palco e, apesar de tudo, sempre me deixou livre. Te devo muito do que consegui.

Miles: A questão não é de onde você partiu, mas aonde quer chegar.

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Esse enigma ficou em aberto com a morte de Coltrane em 1967, e mais: - é uma das chaves para entender sua obra. Muitas vezes não é tão importante assim saber pra onde vamos, mas é fundamental curtimos o caminho que nos leva até o desconhecido. Assim, o músico tornou-se uma das principais forças propulsoras do jazz, curiosamente retroalimentando o próprio Miles, que acabou incorporando nuanças de suas práticas e experimentalismos, por exemplo em álbuns como “Bitches Brew” (1970).

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Dividido em quatro partes, a graphic novel não se utiliza de uma ordem cronológica, podendo flutuar entre várias etapas - e épocas - da vida do protagonista. Estúdios de gravação, bares e palcos enfumaçados, quartos de hotel, momentos íntimos com suas mulheres e drogas injetáveis. 

A segregação racial, o ativismo através da arte, os dilemas, momentos de ápice na carreira, declínios, dúvidas e descaminhos de um dos jazzistas mais importantes de todos os tempos. Um livro perfeito para os amantes do jazz (ou até mesmo para iniciantes e curiosos), mas acima de tudo - “Coltrane” é uma daquelas obras fundamentais para entender o gênero. Obra-prima!
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