50 anos de "Grievous Angel", álbum póstumo de Gram Parsons, um dos grandes difusores do country rock

GP. Arte: Katy Wakefield

Há 50 anos, em janeiro de 1974, a gravadora Reprise lançava "Grievous Angel", álbum póstumo de Gram Parsons, um dos pais do country rock. A cena californiana embebida pelo country nos 1970 não seria a mesma sem a passagem de Gram pelo planeta. Nascido Cecil Connor em 1944, viveu sua infância entre a Flórida e a Geórgia, onde aprendeu os primeiros acordes com o pai, Coon Dog Taylor, músico country que se suicidou quando Gram tinha só 13 anos.

Arte: Ryan Kelly
Após o novo casamento da mãe, adotou o nome e sobrenome do padastro (um alcoólatra que morreu no mesmo dia em que ele se formou). Ainda muito jovem, colocou o pé na estrada e chegou a nova York, onde ganhou alguns trocados tocando nos botecos da Big Apple. Montou a International Submarine Band, banda no qual gravou apenas um disco e logo depois, em 1968, migrou para Los Angeles. Imerso no mundo do rock da Costa Oeste, conheceu Chris Hillman, baixista dos The Byrds, que o levou para um dos grupos mais incensados dos anos 1960. Ficou apenas 90 dias na banda, tempo suficiente para gravar o álbum “Sweetheart of The Rodeo” (1968), um dos gêneses do country-rock e candidato a favorito dos fãs. 

Após cair fora do Byrds, montou o The Flying Burrito Brothers com Hillman, onde gravou dois excelentes álbuns – “Gilded Palace of Sin (1969)” e “Burrito D’Luxe” (1970). Apesar do sucesso do grupo, decidiu seguir carreira solo, mas sofreu um acidente de moto e só em 1972 foi gravar seu LP de estreia.

Nesse meio tempo, conheceu a cantora Emmylou Harris e estreitou as relaçoes com Keith Richards (que coonheceu em 1968), influenciando os Rolling Stones em canções como “Sweet Virginia”, “Dead Flowers” e “Wild Horses”, esta última, inclusive, gravada pelo Flying Burrito antes do lançamento de “Sticky Fingers”, dos Stones. Reza a lenda que foi Gram um dos músicos que passou o segredo que mudou a vida artística de Keith Richards: a afinação em G aberto, algo que Ry Cooder também apresentou ao guitarrista dos Stones durante as gravações de "Let It Bleed" (1969).  

Parson com o amigo Keith Richards. Reprodução: Train Your Brain To Happiness
Seu primeiro álbum solo, “GP”, foi lançado em janeiro de 1972. Gravado em Hollywood, a banda base tinha parte dos músicos que acompanhava Elvis na estrada da década de 1970. Lá estavam o guitarrista James Burton, o baterista Ronnie Tutt e o tecladista Glenn Hardin (que também era diretor musical do conjunto). Além deles, completavam o time – Emmylou Harris, dividindo muitas vezes taco a taco os vocais com Gram; o baixista britânico Rick Grech (Family, Blind Faith e Traffic); Al Perkins (Shiloh, Stephen Stills, Flying Burrito), no dobro, entre outras cobras criadas da cena da época. 

Parsons, no dia de seu casamento. Reprodução 
Em setembro de 1973, após concluir as gravações de “Grievous Angel”, seu 2° disco, saiu em férias, regadas a álcool e drogas na maior parte do tempo. Foi encontrado morto em um quarto de motel, logo após uma overdose. Ele tinha só 26 anos, desse modo, não incluso no sinistro Clube dos 27. 

O toque bizarro da história é que seu empresário, Phil Kaufman e mais um amigo, roubaram o cadáver de Gram do aeroporto, de onde seguiria para o enterro em Nova Orleans. A dupla rumou para Joshua Three, onde tocaram fogo no cadáver, numa espécie de cremação ao modo indígena, desejo confesso do músico. Claro que depois a dupla foi responsabilizada judicialmente e precisou responder por isso. No fim das contas, os restos mortais do músico foi cremado, porém na cidade de Metairie, na Louisiana. Existe um filme – “Parceiros até o fim“ (Grand Theft Parsons, 2003), de David Caffrey (diretor da quarta temporada da série Peaky Blinders), com elenco formado por Johnny Knoxville e Christina Applegate, e Gabriel Match no papel de Parsons, longa que esmiúça o episódio.

O álbum póstumo “Grievous Angel” mantém o alto nível do trabalho anterior. A banda base de Elvis na estrada e Emmylou Harris seguem na linha de frente, com a adição de mais dois nomes de peso: Bernie Leadon (Eagles) e da musa country Linda Ronstadt. Destaque para a apoteótica “$1000 Wedding”, a balada “Love Hurts” (sim a mesma canção regravada logo depois pelos escoceses do Nazareth), a satírica “Ooh Las Vegas” — que soa como uma pura tiração de sarro com Elvis: "Ooh, Las Vegas/ Ain't no place for a poor boy like me" (Oh, Las Vegas,/ Não há lugar para um garoto pobre como eu). 

Falando do Rei do Rock, lembro que a própria roupa de shows de Parsons era inspirada nos jumpsuits, os macacões que o Elvis Presley usava no palco. A roupa de Gram contiha bordados feitos a mão por "Pamela Miller, uma das mais lendárias groupies do rock durante os anos 1970 (recomendo a leitura de "I'm With the Band", livro escrito por Pamela que fala bastante sobre sua amizade dela com Parson. Mas nada se compara a belíssima e profética “In My Hour of Darkness”, canção de despedida de "Grievous Angel", com Linda Ronstadt e Emmylou Harris fazendo a cama para o vocal de Parsons, última faixa do lado B do álbum.

Sem Gram Parsons (coloque Nashville Skyine de Bob Dylan nesse mesmo saco), o rock californiano dos anos 1960/70 e o country rock não seriam o mesmo — James Taylor, Linda Ronstadt, Emmylou Harris, Gene Clark, Neil Young, CSNY, Eagles, Commander Cody, New Riders of the Purple Sage, entre tantos outros grupos e artistas teriam vida mais difícil ou alguns nem  teriam terreno livre sem a passagem do criador da Cosmic American Music. Mais à frente, até mesmo o altcountry dos anos 1990 beberia nessa mesma fonte, nomes como The Jayhawks, Wilco, The Walkabouts, Ryan Adams, entre outros. 

Uma apanhado de melhor de Gram você confere no player abaixo.

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