Até chegar a tua porta
Vejo mil maneiras de falar a verdade vejo conspirando
ao meu favor & o futuro derrapando na esquina vejo a
importância do efêmero & a beleza definhando graciosamente em teu rosto vejo
a poesia como um exercício da vagabundagem vejo um filme em cada linha que
escrevo & um livro impresso na textura de um guardanapo vejo reconhecimento
por aquilo que eu fiz & um justo pagamento pelo meu suor vejo um olhar
tranquilo no retrato de Ferlinghetti vejo o planeta azedando como leite talhado
& bombas silenciosas destruindo qualquer coisa vejo um novo recomeço com o anunciado fim dos tempos vejo a vida germinando no concreto vejo poder nos gestos de um
bebê & teu gozo delirante serpenteando em minhas pernas vejo sinais de
fumaça em baforadas de cigarro vejo geleiras glaciais dentro de um cubo de gelo
& duas frenéticas mariposas dialogando com a lâmpada quente vejo Tex
cavalgando seu cavalo de pau & Fellini dirigindo meu próximo sonho vejo um
cadilac novo em folha estacionado na cabeceira de minha cama & um pomar de
maças amadurecendo num dedal vejo a parede do banheiro transpirando ofegante
& as cores do arco iris na água que sai pela torneira vejo minha imagem
como um registro do passado vejo o presente rabiscado para sempre vejo uma nova
espécie de herói caminhando pela América vejo a língua portuguesa como idioma
universal vejo a existência como um simples sonho & um pequeno devaneio
transformando minha inevitável jornada até a tua porta.
Comentários
Postar um comentário