Ainda Ressoando pelas paredes




Escrevi “Ressoando pelas paredes” em 2001. Esse poema foi publicado no ano seguinte em “Saindo da Linha” (sCHDs), meu primeiro livro. Sempre olhei para o (suposto) resultado final dessa criação e pensava: “Gostaria de reescrevê-lo”. Sabe - igual Lowell George fez com “Willin”. Essa canção veio ao mundo em 1971, no álbum de estreia da banda norte-americana Little Feat. Só que George, como compositor, não parece ter ficado satisfeito com a gravação. Prova disso é que no ano seguinte, “Willin” retornou no LP “Sailing Shoes”. E foi nessa segunda vinda do tema, que seu autor encontrou os contornos definitivos para esse clássico do country rock.

 

Resolvi fazer o mesmo com “Ressoando pelas paredes”. São pequenas mudanças, no entanto, a meu ver, desentortaram detalhes que me fustigavam toda vez que olhava para o que fora publicado no livro. 

A inspiração desse poema veio da história de Lancelot e Guinevere. A vida de Lancelot foi marcada pela sua paixão por Guinevere, esposa do rei Artur, com quem manteve uma relação amorosa. Um amor que nunca encontrou sua plenitude. A tentativa do poema é passar aquela sensação de que mesmo quando não estamos mais presentes, muito daquilo que somos e pensamos - permanece com as pessoas as quais amamos.   

Eis as linhas.

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Toda vez que me despeço de ti, é apenas o meu corpo que se vai. Porque o meu espírito aventureiro permanece contigo. Basta lembrares daquilo que te disse ao acordar, leres o bilhete que deixei rascunhado sob o travesseiro, para que percebas a minha presença no ar. As marcas que ilustrei na tua vida, não passam do testamento vivo daquilo que sinto. Eu sei Milady, meu cheiro amadurece & nunca fenece em tuas lembranças. 

Minha voz ainda ressoa pelas paredes.

Cá estou eu, onde te vigio a distância através dos meus pensamentos. Apanhei algumas frutas & as deixei sobre a mesa, para que tu te revigores ao longo e um dia tranquilo. Parti cantando uma antiga canção burlesca. Alegria fortalece a alma & amedronta o inimigo. Pegadas das minhas botas ainda sujam a entrada do teu quarto, prova visível de que tu não estás sozinha, demarcando o quão palpável o instante passado pode ser.

O eterno retorno cavalga com o poente. A roda de um moinho nunca gira ao contrário. Assista ao limiar de um acaso previsível.

O caminho que me leva é o mesmo que me traz. Conquistas inexistem sem minha volta à tua porta.   

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