Veredicto: CULPADO!



Crônica #31 publicada no Diário de Santa Maria 15.02/2013 | N° 3377

Ele já tinha descoberto algumas sensações amargas na vida. Como protagonista e coadjuvante teve noções básicas de decepção, medo, egoísmo, arrependimento, tristeza profunda e outras amarguezas que engoliu dos semelhantes ou propiciou aos seus pares no decorrer da vida. Mas nada, mas nada mesmo, se compara ao sentimento de culpa. A vilania é para os cafajestes, para homens sem escrúpulos, para sujeitos aliados com o lado negro da força, pessoas com zero sensibilidade e sem nenhum senso de responsabilidade. Mas não para um cara como ele. Compara sua vida no estágio atual ao julgamento de Pinky, personagem de Bob Geldoff, no musical Pink Floyd The Wall. O filme circunda o material autobiográfico de Roger Waters e Syd Barrett, combinando a infância de Waters com a retirada de Barrett das fileiras do Floyd - e seu consequente esgotamento mental que o lançou a demência. 



Lá no finalzinho da fita, rola uma canção chamada The Trial (O Julgamento), música que representa uma espécie de acerto de contas de Pinky com sua consciência. Na tela vemos uma representação dos eventos do filme capitaneada pelos desenhos e ilustrações do cartunista britânico Gerald Scarfe. Na letra, o advogado de acusação o ridiculariza por ter sentimentos de uma natureza “quase humana”. 



Desafetos como seu velho professor da escola primária e a ex-mulher atiram pedras no indefeso Pinky, caracterizado na forma de um boneco de pano com feições infantis. Somente sua mãe não o condena pelo passado de erros e equívocos. As mães, sempre elas (e somente elas) para compreenderem seus rebentos. Freud explica.


Na letra de Roger Waters, além da sensação de desamparo, ele decreta: “Macacos me mordam! Eu estou louco. Fui fisgado. Deviam ter tomado minhas bolinhas de gude”. No final, Pinky é condenado. O juiz justifica que aquele homem causou dor a própria mãe, destruiu um casamento e também arquitetou supostos tormentos ao ex-professor. Como sentença será exposto diante de seus semelhantes como exemplo da desgraça da raça humana. 


Da mesma forma que aconteceu no show de Waters em março de 2012, o muro também despencou em cima de você. É assim que se sente: - culpado por ser uma besta quadrada sensível que não consegue enxergar o mundo de uma forma prática. É como se o seu corpo fosse preso a balões que não permitem que os pés desse ser avoado (sim, você mesmo!) toquem o solo. Enfim, diga-me como é morar no ar? E quando o dedo em riste é apontado para seu rosto, da mesma forma que Pinky, uma voz interior lhe assopra: “Louco. Além do arco-íris ele está louco”.


Yeah, my dear Dorothy (man)! O que fazer com esse maldito sentimento de culpa? Eu te digo meu caro: nada! Apenas relaxe. Agora é só esperar a Bruxa do Oeste surgir do nada. E alguma coisa me diz que você não contará com a ajuda de nenhum Espantalho, Leão ou Homem de lata. Ah, e tome a devida distância dos tijolos amarelos.   
       

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