O melhor café da minha vida



Enquanto ele começava um novo capítulo da biografia de Neil Young, a chaleira quase chiou na cozinha. Meticulosamente ela colocou duas colheres de chá de café, duas de açúcar e completou a xícara com a água quase fervendo. Mexeu bem, e então levou a taça até a mesa. “Quente! Vê se tá bom?”, disse carinhosamente. Ele bebeu um pequeno gole, fez um esforço danado para não fazer cara feia e então respondeu: ”O melhor café da minha vida”, replicou com um sorriso maroto nos lábios. Ela, fingindo estar brava, falou apontando o dedo no rosto dele: “Mentiroso! Diz a verdade?”. “Sério! ‘Tá tri bom”. Ela entrou no jogo, deu um beijo rápido nele e concluiu: “Eu sei que meu café é horrível. Não entendo por que, mas nunca acerto o ponto certo desse troço. Mas fiz com todo o meu amor e carinho”.

Ele realmente não se importava, ora mais aguado, outras vezes forte demais, muitas vezes sem açúcar, tantas xícaras muito doces, enfim, eram os cafés mais horríveis de toda sua existência. Dia após dia, por mais que ela se esforçasse, continua errando na medida. Todas as vezes. Aquilo passou a ser uma piada interna deles. Na verdade, o que ela não sabia, e o que ninguém nunca soube, é que ele detesta café. Sério! Até hoje, o lance dele é apenas tomar sua dose diária de cafeína. 'Viciuzinho', sabe? Alguns goles e tudo certo, só então, segue adiante com seus afazeres. E aqueles dropes de pretinho vindo dela, eram sempre especiais. Que fique registrado nos autos: sim, é a mais pura verdade, aqueles foram os melhores cafés da sua vida.      

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