Inferno e paraíso


Mickey Rourke e Lisa Bonet, no filme Coração Satânico


Segundo uma lenda medieval Incubus são demônios masculinos que afetam as mulheres e Sucubus são demônios femininos que afetam os homens, ambos sempre agem a noite enquanto suas vitimas dormem, sugando suas forças vitais através do ato sexual e possuem uma aparência sedutora de acordo com o padrão de beleza da época. Porém, segundo a Demonologia, tanto Sucubus e Incubus descendem de um mesmo demônio, exemplo: para uma mulher apareceria na forma masculina e para um homem o mesmo demônio apareceria com a forma feminina.

Sempre fui ligado no significado das palavras. É aí que faço conexão entre o demônio Sucubus e a palavra sucumbir. No dicionário Houias, quem sucumbe, é alguém que cai sob peso ou força de algo. Quem sucumbe se dobra, se verga, não resiste, é vencido. Quem sucumbe a alguma coisa, cede e se entrega. Se partirmos para o campo de etimologia, a palavra deriva do latim succumbo – e significa deitar-se abaixo, cair debaixo, sucumbir, ceder ao sono, ter cópula carnal, enfim, ser vencido. Alguém duvida que Sucubus derivou a palavra sucumbir?

Quem nunca na vida um dia se sentiu doentiamente sucumbido por desejos incontroláveis, e como uma pena bailando no vento se dobrou a determinada situação, ou até mesmo implorou para ser desgovernado por algo que possivelmente irá causar sérios problemas. Sentimentos autodestrutivos muitas vezes não passam de bólidos que funcionam como bolas de boliche deslizando a mil, prestes a derrubar os pinos do bom senso. Strike! Isso me faz lembrar uma frase de Thing Have Changed, canção de Bob Dylan feita para o filme Garotos Incríveis, de Curtis Hanson.  A letra diz assim “Some things are too hot to touch”. Se você suspender uma lâmina alguns segundos sob uma chama e depois tocá-la com seus dedos, é óbvio que irá se queimar. E muitas vezes precisamos sentir as dores de uma queimadura para aprender a lição.





Como um homem-bomba com um cinto crivado de explosivos. Você sabe que tudo irá pelos ares. O lance é se iludir com a recompensa. Depois do BOOM, quem sabe o suicida irá acordar no paraíso ao lado de dez virgens. Mas nem sempre é assim.

Eu outro viés, sempre fui fascinado por algumas figuras maléficas da história. Não falo em admiração pelos seus atos diabólicos, mas apenas fascínio em entender por que certas pessoas escolheram o caminho do mal. Isso talvez possa explicar o andar da carruagem da humanidade e certos rumos do planeta. Será que muitos de nós não poderíamos fazer atos semelhantes? Será que no lugar desses homens não sucumbiríamos aos irresistíveis desvios que nos levam aos Palácios do prazer, da luxúria e da riqueza? Voltando ao campo da ficção, se alguém assistiu Coração Satânico, filme de Alan Parker, com Mickey Rourke, vai se lembrar do drama do protagonista. Harry Angel descobriu que o inferno estava dentro dele. O paraíso também estava lá, antes de ele sucumbir a um monte de coisas. A vida e suas escolhas.


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