Jack of Hearts e o Treze


Foto: Fabiano Dallmeyer

Crônica #17 publicada no Diário de Santa Maria 08.10/2012 | N° 3295


Na última quarta-feira, eu e meus colegas Lennon, Zanini, Zuli, Cassuli e Tomás disparamos Light & Shade, o EP de estreia da Jack of Hearts (JOH), banda que montamos ano passado, aqui na cidade. O lance da JOH é revirar o terreno fértil do rock dos anos 1960 e 1970, country rock e blues. Pelo menos, a tentativa é essa. Além disso, temos 15 canções próprias, todas em inglês, idioma que fornece fundamentalmente nossas influências no terreno da música. Cinco desses temas foram selecionados para a amostra em CD. O lugar escolhido para a première não poderia ser outro: Theatro Treze de Maio, o melhor palco de Santa Maria quando o assunto é cultura. O teatro, construído no final do século 19 e incrivelmente desativado em 1916, teve seus anos negros como prédio que chegou a abrigar diversos órgãos públicos e até mesmo a redação de um jornal.



Foto: Milany Rios


Para quem não sabe ou não lembra, em 1992 foi lançada uma campanha de restauração, e o prédio foi recuperado e reformado, recebendo novos equipamentos. Infelizmente o tranco não foi fácil, pois, com recursos escassos, a reforma precisou ser paralisada. No entanto, a comunidade se reuniu e completou os fundos faltantes, possibilitando a conclusão das obras e a reabertura do teatro em suas funções originais, o que aconteceu em 1995. Isso sacudiu a cidade na época e, desde então, há quase 20 anos, o nosso teatro passou a funcionar de forma periódica.



Foto: Fabiano Dallmeyer


Alguém imagina uma cidade sem teatro? Fico pensando nas pessoas que não prestigiam as montagens que passam por lá e ficam trancados em casa, vendo TV e a novela da hora. Provavelmente, seja esse mesmo povo que reclama da falta de opções culturais em Santa Maria. É difícil de entender, mas, enfim...


Atualmente, dona Ruth Péreyron e sua equipe mantêm essa “roda da cultura” girando com invejável dose de paixão. O fato é que todo o misancène de armar um espetáculo, que quase sempre é tão difícil de fazer acontecer por aqui, fica muito mais fácil e profissional quando pisamos no palco do Treze. Na verdade, além do lance factual de participar do show, o que mais me motiva é tudo o que acontece antes, a expectativa que nos cerca segundos, minutos e até mesmo horas antes de as cortinas se abrirem. A afinação das luzes, a passagem de som, a composição cênica, a escolha e a ordem das canções no setlist e, principalmente, os amigos se entregando por uma causa artística, apenas pelo simples fato de poder fazer parte do time. Isso é bonito. É muito bom ter amigos desse naipe. Sou grato e sinto-me agraciado por conhecer pessoas assim.


É aí que projetos como o Treze: o Palco da Cultura precisam ser louvados. Tocar a sola dos sapatos nessa casa centenária é sempre mágico. Nos sentimos dentro de um sonho dourado, onde a música e a arte podem fluir de uma forma única e plena. O verdadeiro paraíso encharcado de luz e sombra.

Foto: Fabiano Dalmeyer 
  

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