A carta de Mauro Beting



Crônica #20 publicada no Diário de Santa Maria 30.11/2012 | N° 3313


No início da madrugada da última quinta-feira, o filho de Joelmir Beting, o também jornalista Mauro Beting, estava no ar no seu programa de rádio quando recebeu a notícia sobre a morte de seu pai. Primeiro divulgou no Facebook: “um minuto de barulho por Joelmir Beting: 21 de dezembro de 1936 – 0h55 de 29 de novembro de 2012”. Logo depois, conteve as lágrimas e fez uma homenagem lendo ao vivo uma carta. Joelmir tinha 75 anos. Ele estava internado desde o dia 22 de outubro em um hospital de São Paulo, e, no domingo, sofreu um acidente vascular encefálico hemorrágico. Sociólogo e jornalista, trabalhou em diversos veículos de comunicação, entre eles o jornal Folha de São Paulo, rádios CBN, Jovem Pan, TVs Gazeta e Record. Na Globo, ficou duas décadas. Em março de 2004, voltou ao grupo Bandeirantes. Atualmente, além de atuar como comentarista econômico nos veículos de sua empresa (TV e rádio), também era um dos âncoras do programa de entrevistas Canal Livre.





Fiquei lendo e relendo a carta que o filho fez em homenagem ao pai. Vários trechos são muito bonitos. Mas uma parte me marcou em especial. Mauro cita um dos ensinamentos de Joelmir, que sabiamente nos avisa: "Nem todas as palavras precisam ser ditas. Devem ser apenas pensadas. Quem fala o que pensa não pensa no que fala. Quem sente o que fala nem precisa dizer". Cresci com meu pai dizendo algo parecido: “Muitas vezes o silêncio explica tudo sem uma única palavra”. Em outro trecho, Mauro revela outro sutra do pai: “Antes de ser um grande jornalista é preciso ser uma grande pessoa”. E como o mundo precisa de pessoas bacanas! Artigo raro em muitas profissões e na vida. 


O pior é quando alguém já não é grande coisa na sua profissão, e mesmo assim, essa pessoa ainda se julga superior pelo simples fato de ser advogado, médico, jornalista ou sabe-se lá o que. Grande coisa! Formação, contracheque ou status não são credenciais de que determinado profissional é um ser humano digno de crédito e confiança. Digo isso nos dois terrenos. Por isso um jornalista como Joelmir Beting é uma perda irreparável. Ele era um daqueles baluartes que eu estava acostumado a ver (ouvir) desde muito pequeno. Nos últimos tempos, aos domingos, ainda o acompanhava no Canal Livre. Lembro-me da frieza, perspicácia e do tom sereno e marcante de sua voz na condução dos programas, ou comentários que fazia. Credibilidade. Outro gigante que se foi.


Leia o conteúdo integral da carta escrita por Mauro Beting ao pai.


Trabalhando numa hora tão difícil, Mauro Beting foi “classudo” na despedida de seu velho. Lembrou-me Glênio Reis. O apresentador da Rádio Gaúcha trabalhou no dia da morte da esposa Anésia, vitimada pelo câncer em 2010. Na abertura do programa Sem Fronteiras, rodou a música As Rosas Não Falam, de Cartola. Foi emocionante. Para nossa sorte, alguns gigantes ainda permanecem entre nós.  


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