Não é “Kêiti”, é “Kif” Richards



Crônica #5 publicada no Diário de Santa Maria 17/08/2012 | N° 3223


Às vezes me pego pensando em que tipo de pai eu sou. Por exemplo, no último fim de semana, comecei a comemorar o Dia dos Pais no sábado. Para isso, resolvi levar o meu filho num famoso boteco da cidade. Muitos com certeza levam suas crianças a shopping centers, dão uma volta pela cidade em busca de um sorvete com cobertura de chocolate, ou acompanham os rebentos ao cinema. Eu levei Guilherme, meu filho, para um barzinho. O plano era ficar por lá apenas por cerca de uma hora, ou pouco mais que isso, apenas para fazer um “happy hour” inusitado com o garoto. Mas que pai levaria um filho de apenas 12 anos para uma passagem de som de uma banda? A expressão “politicamente incorreto” cai como uma luva para essa cena.






Ao chegarmos por lá, de cara ele pediu um guaraná. Olhando atentamente o cardápio, entre nomes sugestivos e petiscos duvidosos, apostamos no clássico: - tábua de coraçõezinhos de galinha e a básica porção de fritas. Guilherme  sorriu em júbilo, numa expressão beatífica. Aquela felicidade do tipo “gato que engoliu um passarinho”.  461 Ocean Boulevard, célebre LP de Eric Clapton vazava pelas caixas de som do bar. Em nossa mesa, juntou-se a nós no bate papo o dono do bar, mais outro amigo. Na conversa, entre uma zoação e outra, falamos da banda que se apresentaria naquela noite em tributo a Elvis Presley, da possível vinda de Robert Plant ao estado em outubro e da esperada turnê dos Rolling Stones em comemoração aos 50 anos da banda. Guilherme quer assistir os Stones ao vivo. Foi aí que em determinada frase, meu amigo pronunciou o nome do guitarrista dos Stones – “Keith (Kêiti) Richards”. Então, sem a mínima elegância, e nenhum traço de indulgência, meu filho corrigiu o cara. “Não é “Kêith”, é “Kif” Richards!” E ele estava certo. Meu amigo prontamente retomou o seu raciocínio retificando o nome do músico inglês. Claro que fiquei orgulhoso do guri.





Contei pra ele essa história da pronúncia certa do guitarrista dos Stones enquanto lia Vida, biografia de Richards lançada no país no segundo semestre de 2010. O próprio “Kif” nos ensina. Guilherme não esqueceu a lição. Sempre usei a música como um canal de estreitamento entre nossa relação pai/filho. Tem uma coisa que aprendi com as crianças. Elas têm seu próprio tempo. E não adianta forçar a barra e tentar impor nossas preferências como sendo as mesmas que movem o interesse delas. No entanto, um dia, quando menos se espera a ficha cai. No caso de Guilherme, ele descobriu Beatles, Stones, Kings of Leon e outras bandas e artistas que até não me orgulho tanto.

Falando de música e uma boa história entre pai e filho, tem um som que me ganha quando esse tema vem à baila: Beatiful Boy, de John Lennon. Sempre me lembro do meu garotinho com medo do escuro. E lá estava eu espantando os monstros com uma canção.


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