O prazer como força propulsora do fazer jornalístico


Divulgação Touchstone


Por mais que o fazer jornalístico aparentemente tenha perdido seu encantamento frente ao mundo das grandes corporações e interesses, será que ainda há espaço para o idealismo na profissão de jornalista? Quando percebemos que grande parte da história do mundo foi regida pela mentira e desigualdade, e constatamos que uma quantia considerável do ouro e da prata da humanidade escoou direto para as mãos de uma minoria privilegiava, começamos a duvidar de daquilo que é publicado nos jornais ou impresso nos livros de história.  Como foi dito pelo personagem principal do artigo nominado “O Professor Gaivota”, escrito em 1942, pelo jornalista norte-americano Joseph Mitchel, “é provável que a verdadeira história do mundo ainda esteja inédita”. Nesse artigo publicado na renomada revista “The New Yorker” Joe Gold (ou “Professor Gaivota”, como ele gostava de ser chamado), afirmava estar escrevendo o mais extenso livro de todos os tempos, onde revelaria a autêntica história da humanidade. Segundo ele, muitas mentiras seriam reveladas.

Uso essa introdução para enredar o tema do fazer jornalístico como uma vereda que pode nos revelar a verdade sobre fatos como eles são, e não como aparentam ser aos olhos de pessoas comuns, sem faro jornalístico, assim como, através de idealismo e paixão de alguns profissionais, podemos constatar o quanto essa profissão ainda pode mudar as regras do jogo e imprimir sua marca na história da humanidade.

Para isso, vou falar de dois filmes: “Todos os Homens do Presidente” (1976), dirigido por Alan Pakula e estrelado por Dustin Hoffman e Robert Redford; E “O Informante”, de Michael Mann, com Al Pacino e Russel Crowe.

Em “Todos os Homens do Presidente” o filme nos mostra o quanto devemos estar ligados em fatos aparentemente sem importância, onde sacamos que estar atentos e “antenados” (sintonizados) com as conexões de um autêntico fazer jornalístico - é primordial - para que consigamos levantar a lebre de um grande furo jornalístico. Conclusão: quando fazemos o que gostamos, isso pode fazer toda a diferença. Uma pequena prova disso pode ser vista no filme. A história se passa em 1972, quando, sem ter a menor noção da gravidade de fatos aparentemente sem importância, Bob Woodward, um repórter (Robert Redford) do Washington Post inicia uma investigação sobre a invasão de cinco homens na sede do Partido Democrata. Com a ajuda de outro colega do jornal, Carl Berstein (vivido por Dustin Hoffman), a investigação dá origem ao escândalo Watergate. A matéria (e toda a investigação) da dupla acabou sendo um dos pilares para a conseqüente queda do presidente Richard Nixon.  Durante todo o processo de apuração dos fatos, Bestein e Woodward passaram a não ter vida própria. Movidos pela paixão e idealismo eles não mediram esforços para obter toda a verdade referente aos fatos.


Já em “O Informante”, segundo filme mencionado, a história se passa em 1994, quando um ex-executivo da indústria do tabaco deu uma entrevista reveladora ao programa jornalístico "60 Minutos", da rede americana CBS. Jeffrey Wigand (Russell Crowe), um alto executivo despedido da Brown &  Williamson, afirmava que os manda-chuvas da empresa em que trabalhou não apenas sabiam da capacidade viciadora da nicotina como também aplicavam aditivos químicos ao cigarro, para acentuar esta característica. Na hora H, porém, a CBS recuou e não transmitiu a entrevista, alegando que as consequências jurídicas poderiam ser fatais. Baseando-se nesta história real, “O Informante” narra a trajetória do ex-executivo e do produtor, o jornalista Lowell Bergman (Al Pacino), que o convenceu a falar em público. Nesse caso, o personagem vivido por Al Pacino, um homem com convicções de esquerda (em uma cena do filme dá pra visualizar um pôster do poeta beat Allen Ginsberg na parede do escritório de Bergman), mas atuando em uma empresa de televisão renomada, e totalmente mainstream, leva uma rasteira de seus chefes, quando a cúpula da CBS resolve não exibir a matéria na íntegra. A Brown & Willianson acaba pressionando os executivos da rede de TV, seja com retaliações comerciais, um consequente processo ou até com a possível compra da emissora. É quando, então, Bergman resolve encontrar outros meios de revelar a verdade por trás dos fatos. Desacreditado, ridicularizado e completamente decepcionado, mas principalmente movido pela paixão e idealismo, o produtor acaba movendo as peças do jogo e no final das contas, consegue provar que sua matéria (ou fonte), nada mais do que revelava uma verdade sobre o mundo das grandes corporações.

Dá pra concluir que no frigir dos ovos, o que realmente faz a diferença na profissão de jornalista (e em qualquer profissão) – é o amor por aquilo que fazemos. Nada supera isso, nem mesmo "a grana" - eu prefiro acreditar na "gana" pelo ofício. Talvez, apenas um tolo como eu (e mais uma meia dúzia de "gatos pingados") acredite que ainda possamos fazer a diferença nesse velho mundinho repleto de “maracutaias” e tramóias. Assim como o Professor Gaivota de Mitchell, suspeito que uma boa história ainda pode ser escrita e "farejada" de uma forma honesta e com a devida dose de paixão e idealismo. E esses dois filmes, baseados em acontecimentos verídicos, também são a prova concreta disso.

Veja os trailers.    





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