Medo das alturas


Eu vou Acertar o relógio de papel pelo apito do trem. Quero Entortar os passos pelas ruas da infância com meu Colt prateado de espoleta. Lá vou eu comprar iogurte com uma moeda (aprisionada na mão direita) enquanto mamãe me observa sentada no degrau da escada com cheiro de banho. Hoje eu vou acabar com os cabeludos de fogo que despencam da pereira usando uma caixa de fósforos & a ZH amassada de ontem. Durante a execução do plano: Jimmy Carter & o presidente Geisel também desapareceram no incêndio. Depois posso roubar os morangos quase maduros do quintal da Dona Nina. Pular a cerca & comer feijão da Tia Landa, antes da polícia se dar conta que fugi do cercado. Será uma armadilha ou ouvi o ronco do motor da Carmanguia vermelha do meu pai entrando pela garagem as 3 da manhã? O cheiro de pão caseiro & a lesma atravessando a cozinha causam um conflito nos meus sentidos.


Como foi bom sonhar a voadora bola oficial aterrizando no pátio de casa. Não, não vou subir na árvore mais alta lá no fundo do terreno, na divisa com o estádio do Riograndense. Tenho medo das alturas & de ficar esquentando o banco na arquibancada. Feito Tarzan, meu irmão zomba de mim & atravessa o céu de um lado ao outro com a surpreendente corda mágica.

Antes de descobrir quem foi Pedro Gauer vou me refugiar no meu quarto e ler o último capítulo de Robinson Crusoé.

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